OPINIÃO

Balanço

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Do sofá de minha sala percorro lembranças deste ano. Aqui, recebemos amigos, assistimos filmes, assistimos jogos de Grêmio e Inter e acabamos, gremistas e colorados, olhando de binóculo a pequenez que nos tornamos. Somos torcedores de treinadores milionários, jogadores enganadores e, sem títulos, novamente, restou a secação.

Também, aleatoriamente, se é que aleatório existe, meus olhos se fixam nos dois saxofones em um canto. Percebo, então no balanço do ano que finda, que há coisas que prometi fazer e não cumpri. Duas delas, voltar a estudar francês e tocar saxofone, ficaram perdidas em uma gaveta qualquer. Então, sou dois Jorges: aquele que realizou e aquele que deixou de realizar.

Se o que realizou o fez nas coisas imprescindíveis e o que deixou de fazer não era assim tão importante, o balanço é favorável. Mas, se derivei o realmente importante para fazer desimportâncias, o balanço revela-se embaraçoso. Como realmente medir essas ações ou omissões? Pensei na sala de minha casa e no sofá. E percebo claramente que aqui habitaram tantas pessoas pelo fato de que minha família é agregadora, as pessoas sentem-se bem vindo até aqui, há energia positiva, há o encantamento das levezas da vida, mesmo nas adversidades.

Ah, esse sofá do namoro com minha mulher, da soneca, de ouvir músicas na penumbra, de ler, de acessar a internet. Ah, esse sofá que acaba de me permitir a conclusão de que mais uma vez o ano que termina foi um presente e eu o aproveitei.
Lembro do velho Sérgio e Ivone Patussi, cheios de filhos e noras, tão aglutinador, de energia infinda. Enquanto vivos, mantiveram o elo de ligação entre a família. De repente, acabou o tempo terreno, os velhos se foram e, por essas coisas da vida, o grupo se dispersou e uns e outros mal se falam, assim como acontece com quase todas as famílias que eu conheço. Sinto muita falta do velho Sérgio, homem de sabedoria e integridade, cacimba transbordante da qual bebi muita água, a mesma que tento servir aos meus filhos.

Enquanto você lê essa coluna estou aqui em Floripa convivendo com os outros cinco filhos de Jorge e Neca, meus pais, que partiram há quatro anos. Eles eram muito parecidos com Sérgio e Ivone. Deus, no entanto, na sua infinita bondade, permitiu que a gente não desagregasse e essa liga é a melhor homenagem que os filhos poderiam prestar a seus falecidos pais, a demonstração de que as lições repassadas foram captadas e são executadas.

PS – Nesta quinta-feira acolhi ao honroso convite de Fernando Tedesco para acompanhar homenagem do Hospital São Vicente ao Senhor Dionísio Tedesco pela suas quatro décadas de relevantes serviços voluntários à causa vicentina. Hilário de David fez um discurso contundente e simples em que referiu com sabedoria tudo o que poderia ser dito a essa figura histórica de nossa sociedade. Tem inteira razão a filha Miriê, fazer o bem tem retorno, principalmente quando calcado em princípios pétreos de honorabilidade e fé. Parabéns Dionísio e Vilma e toda a família Tedesco, genros e noras, mas acima de qualquer coisa, mais do que parabéns, muito obrigado pelo que realizam e realizaram e pelo que inspiram e o que inspiraram.

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