Exemplo de superação

O que poderia ser um sofrimento se transformou em oportunidades e deficiente físico encontra no xadrez emprego e reconhecimento

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Reabasteça-se de ânimo
Nesta época de Natal muitos relembram os problemas acumulados ao longo do ano ou ainda de uma vida inteira. Perdas, frustações, amores perdidos... Alguns aproveitam essa época para tentar superá-los se enchendo de esperança e novas perspectivas. Outros acumulam o sofrimento e desistem da luta. A entrevista que fiz com Vanderlei Pinto, filósofo, estudante de psicologia, compositor e professor de xadrez foi um presente de Natal para mim que o Jornal O Nacional dedica aos seus leitores. Ele é exemplo de superação. Um homem que prova a todos e, especialmente a ele mesmo, que o que poderia ser um sofrimento, pode se transformar SEMPRE em uma oportunidade para reabastecer-se de ânimo! Assim, faça como ele, não desista, não se deixe envolver pelas circunstâncias, adversidades e preconceitos. Renove-se de esperança! Um Feliz Natal!

Uma batalha entre dois mundos. Como num jogo de xadrez, Vanderlei Pinto, deficiente físico, passou a sua vida lutando para se encaixar no mundo dos “outros”. Sua vida foi repleta de provações. Nasceu na década de 70 na pequena cidade de Getúlio Vargas, quando não haviam recursos médicos para identificar a incompatibilidade sanguínea de seus pais ainda durante a sua gestação. Por isso, ele nasceu com Icterícia Neonatal, popularmente conhecida como Amarelão. A doença poderia ter sido prevenida através de orientações no pré-natal e, no caso da incompatibilidade sanguínea, a mãe que tem o fator Rh negativo, poderia ter tomado uma dose da vacina de imunoglobulina anti-Rh (Rhogam) na 28ª semana de gestação e outra até 72 horas após o parto. Isto impediria a formação de anticorpos que causaram sua condição. A incompatibilidade poderia ter comprometido a sua inteligência, como poderia ter afetado todo o cérebro, deixando-o em estado vegetativo, mas atingiu apenas o cerebelo, que é responsável pela coordenação motora. “Eu não sentava, não tinha um desenvolvimento normal de bebê, mas tenho o desenvolvimento cognitivo normal”.

A doença não foi diagnosticada até o seu primeiro ano e, por isso, nada se pode fazer para reverter a sua condição física. Para oferecer um atendimento especializado, seus pais se mudaram para Passo Fundo onde Vanderlei passou a frequentar a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), onde foi alfabetizado. Mas, aos seis anos, a instituição já não podia lhe oferecer tratamentos que pudessem melhorar a sua condição. “Minha mãe ficou totalmente desesperada. Imagina em 1986 qual colégio particular ou público aceitaria um deficiente físico?” E, foi neste momento, que a família Pinto se mudou para Seara, em Santa Catarina e Vanderlei passou por mais uma provação: a discriminação. “Chegamos lá causamos um grande impacto na cidade. Até então, cidade pequeninha, estruturada tradicionalmente fechada e com uma cultura limitada. A minha família teve que ‘educar’ aquela sociedade para receber uma pessoa com deficiência. Naquela época era muito comum esconder as pessoas com deficiência em casa”. Mas, como a cidade era pequena, logo fizeram amizades, o impacto passou e ele entrou na escola.

Vanderlei até este momento se locomovia engatinhando ou de colo em colo, como era muito magro, mas para ganhar mais independência, ganhou uma cadeira de rodas. “Tive que superar o impacto da cadeira de rodas, que na época, não eram feitas para crianças. Eram grandes, feias, modelos para as pessoas idosas. Não era como hoje, que elas são coloridas, bonitas. Para mim mesmo, foi mais um obstáculo que tive que superar e com a ajuda dos meus amigos da escola eu conseguia ir para onde eu quisesse”.

“Eu queria ser um atleta”
“Para um cadeirante, a utopia é o atleta. Ele vai enxergar no atleta aquilo que ele quer ser. Mas, ao mesmo tempo, é aquilo que ele não pode ser. Por isso é uma utopia. E eu queria ser o goleiro do Inter (risadas)”. O sonho era compartilhado pelos pais e amigos da escola, que faziam de tudo para que ele se sentisse apto para ser um jogador de futebol. “Para você ter uma ideia, meus pais me deram tudo de goleiro. Eu tinha luva de goleiro, camiseta, bola oficial. Eu tinha tudo o que você podia imaginar. Meus amigos fizeram até uma trave do tamanho oficial no pátio da minha casa onde a gente se reunia para jogar fora”. Mas novamente, seu sonho foi desestimulado pela professora de educação física. “A professora, por falta de informação, me colocava de lado”.

Os pais de Vanderlei faziam de tudo para que ele pudesse ter mais independência, mas uma das cirurgias realizadas para corrigir o tendão do pé não deu o resultado esperado e novamente ele perdeu as esperanças de se locomover sozinho. “Quando eu ainda engatinhava a minha ilusão era que eu tinha autonomia, afinal eu engatinhava até o gol. Mas, quando eu perco esta mobilidade ai começa uma nova crise e eu começo a ter consciência da minha diferenciação. Até então, eu achava que podia ser igual aos meus amigos. Só então eu percebo que ser igual não me levaria a lugar nenhum porque eu precisaria me diferenciar”. Nesta época, Vanderlei já tinha 15 anos e então tentou jogar basquete, mas a febre foi passageira.

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