Maria da Penha
Para permitir o necessário avanço da eficácia preconizada pela lei de proteção à mulher vítima de violência é preciso que a mentalidade na sociedade familiar e na coletividade também evolua em vários sentidos. A missão da mulher não prescinde da missão do homem, e vice-versa. É evidente que a mulher mãe tem este elo sublime, uma espécie de dom nato de dimensões transcendentais.
Os conflitos
São muitas as formas de diferenças que podem afunilar e formar o atrito. São comuns as situações em que a mulher expressa de forma mais dramática verbalizando inconformidade sobre a vida familiar. O homem também pode se exaltar em tais casos de opressão represada. Acontece que, pela constituição antropológica masculina, o homem tende a suportar com menor continência quando o nível da verbalização (da discussão) desce na qualidade e sobe na tonalidade. Diz-se que “homem não leva desaforo...”. Pode ser apenas uma marca pragmática de machismo ainda não superado. O fato é que este é passo encontradiço nas relações de um casal. A lei não manda que homem necessariamente fique calado, mas reconhece objetivamente que a mulher é a parte mais fraca, tanto física como psicologicamente. Mas, no entanto, todavia, contudo, já se fala em situações (raras) em que o homem estaria na posição de maior vulnerabilidade e poderia receber proteção em relação à mulher eventualmente opressora. Ao homem, no entanto, cabe o dever de parcimônia. De modo contrário,a coisa não anda.
Tornozeleira
As comissões de trabalho na tarefa destinada à proteção da mulher apresentam diferentes estudos que visam à efetividade das medidas protetivas. No caso da necessidade de afastamento preventivo do homem apontado como agressor ou opressor surge a proposta das tornozeleiras. Este instrumento de controle seria instalado na canela do marido com chip emitindo informações sobre sua aproximação em relação à mulher protegida. Quando o acusado se aproximar muito, a mulher percebe pelo sinal que aparece em seu controle eletrônico. O Conselho da Mulher pretende instalar o sistema nas capitais, especialmente em Brasília e mais 70 juizados especiais no país.
Equilíbrio
Necessariamente o destino do homem é assimilar um novo poder. Terá que treinar a tolerância em relação às formas mais exaltadas de expressão da mulher, quando irritada. Mas, não nos enganemos. A lei que regula a proteção da mulher e da criança não quer uma inversão exasperada. Quer-se o respeito mútuo, o equilíbrio. É princípio que o homem não pode abusar da força que tem, nem a mulher exagerar, a qualquer pretexto, da proteção que merece.
Retoques:
* No campo dos direitos sociais paira certo clima esperançoso por uma onda iluminista que possa brotar das elites culturais de poder para equalizar princípios. Um desses princípios é o intocável direito adquirido que clama por uma revisão. Os rendimentos elevadíssimos, pagos pelos cofres públicos, parece que gozam mais seguramente do princípio dos direitos adquiridos. Para as camadas de menor poder vê-se mais facilmente redução, como é o fator previdenciário e seqüelas.
* Dias atrás o padre Matheus, da Catedral, invocou uma dedução intrigante sobre a palavra do Evangelho. “O evangelho mexe com o poder”!
* Salvo alguns defeitos, o efeito redistributivo do “Bolsa Família” merece ser preservado. Muita gente tem seu primeiro alento da vida com esta pequena ajuda.
Todos ganhamos como ser humano. A revista Somando abordou o assunto, na semana anterior, com todo o equilíbrio. Não se trata de gostar ou não do programa social. Por isso causam perplexidade algumas expressões irracionais que pretendem combater tais ações. A idéia de partilha assusta a mediocridade!
* Ao ver documentário sobre as chacinas do Araguaia, e o comando dos assassinatos, principalmente aos arredores de Corumbá, com atuação do capitão de mato da ditadura – Major Curió, não dá para entender o banho de sangue que vitimou tantos camponeses. Filhos dos campesinos ou sobreviventes tentam recomeçar trabalhando na terra.