A entrega de material para construção de casas nas terras de Pontão, onde um grupo indígena está instalado, gerou tumulto durante a tarde de ontem (31), na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde ocorreu uma rápida reunião com o procurador federal, Marcelo Zeni. Ainda durante a manhã, houve um desentendimento entre o grupo de produtores, que foi até o local questionar a entrega das tábuas, e os índios, que as receberam.
Segundo o presidente da Associação de Produtores Rurais de Pontão e vice-presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, Jair Dutra, o movimento ocorreu, somente, porque os agricultores já ganharam a reintegração das terras em Pontão, onde os índios estão locados. “Se nós já ganhamos e só estamos esperando o Poder Judiciário ordenar a saída do grupo, por que construir casas fixas para eles?”, questiona.
À tarde, esse mesmo questionamento foi feito para Zeni em reunião no prédio da Funai, onde estavam presentes cerca de 60 produtores rurais, um representante da Fundação e, também, policiais militares acionados para conter um possível tumulto. O procurador explicou ao grupo que o material foi entregue cumprindo exigências da Funai. Entretanto, o material só foi cedido após um acordo firmado entre a fundação e os índios. “Eles receberam o material, mas deverão sair dentro do prazo determinado”, afirma. O procurador ainda declara que, assim que for determinada a retirada do grupo, eles devem desmontar as casas de madeira que, segundo ele, é de fácil manuseio, e sair. “Se não houver mudança de decisão judicial dentro dos 60 dias, esses índios vão sair por bem ou por mal de lá”, alega.
Os agricultores levaram como uma afronta a entrega dos materiais, mesmo com a declaração do procurador. Dutra disse ao procurador, que não podem ficar tranquilos conhecendo o processo de ocupação. “Nós não somos tão ingênuos a ponto de dizer que depois que uma moradia foi fixada em um lugar, vai ser retirada com facilidade. Isso passa por embates judiciais e entraves políticos”, argumenta.
A preocupação por parte dos produtores rurais continuou, mesmo após reunirem-se com o procurador, que deixou a sala no momento em que uma possível discussão começaria. Zeni alegou ainda, que a Fundação luta para que as decisões judiciais sejam cumpridas por parte dos grupos indígenas, o que garante a retirada dos mesmos dentro dos prazos. Após a reunião, os produtores se dirigiram até o Ministério Público Federal, onde realizaram a entrega simbólica dos documentos de reintegração das posses.
Pontão
Durante a manhã ocorreu uma rápida afronta no município de Pontão. Conforme Dutra, os produtores rurais perceberam a entrega dos materiais por volta das 07h e, às 9h, se dirigiram até o local para questionar a construção das casas ao representante da Fundação que ainda estava na propriedade. Quando os índios perceberam a aproximação dos agricultores, se muniram com pedras e pedaços de pau, impedindo a passagem. A Brigada Militar foi acionada e se dirigiu até a localidade, entretanto, os agricultores já haviam saído.