O dia 8 de março de 2012 ficará marcado por muitos anos na memória de seu José Valdemir Bianchini Gheno, 70 anos. Esta foi a data em que a esposa dele, Carmelina Helena Comin, na época com 76 anos, faleceu vítima de câncer no intestino. A data também comemora o Dia Internacional da Mulher e, com certeza, dona Carmelina foi uma grande mulher ao lutar durante oito anos contra a doença. O dinheiro que poderia ter ajudado no tratamento da idosa chegou tarde demais. Ela morreu vítima da doença e de um golpe milionário que lesou 30 mil pessoas no Rio Grande do Sul.
Carmelina nasceu em Santa Maria, na década de 1930, mas foi criada durante a maior parte do tempo no Distrito de Bela Vista, interior de Passo Fundo. Dedicou-se à vida religiosa durante 36 anos, através da Congregação Salvatoriana do Bom Conselho. Anos mais tarde, deixou de ser freira para se tornar a esposa de um também ex-padre. José Valdemir Bianchini Gheno atuou durante 30 anos como religioso e, depois de se aposentar, pediu licença ao papa para deixar de ser padre. Foram 11 anos de companheirismo e vários anos de batalha pela vida. “Cumprimos nossa missão religiosa, nos aposentamos e decidimos viver juntos”, relembrou o esposo de Carmelina.
De acordo com informações contidas no processo contra o advogado Dal Agnol, a vítima foi privada de grande quantia desde 2010, oportunidade em que o advogado, utilizando-se da confiança a ele outorgada, sacou o dinheiro sem entregá-lo a quem era devido. “Dos R$ 125 mil, ele apresentou apenas um papel com R$ 16 mil. Simplesmente olhei e disse que iria verificar o valor. Outro advogado disse que a gente estava sendo logrado e entramos com uma ação contra o Dal Agnol. Quando o resultado veio e recebemos o dinheiro, já não tinha muito o que fazer”, explicou Gheno.
O dinheiro foi pago anos depois, após uma liminar judicial, cerca de dois meses antes da morte de Carmelina. Todo o tratamento foi feito pelo SUS. “Se o dinheiro tivesse vindo antes, ela teria um tratamento e atendimento mais digno. Cuidei dela até o último minuto. Ela precisava deste dinheiro que só veio pouco antes dela morrer. Foram oito anos de cirurgias. Cerca de duas por ano. Se tivesse vindo uns dois anos antes ela teria vivido mais”, lamentou o esposo.
Carmelina adorava animais. Tinha uma gata chamada Melissa e uma caturrita apelidada de Cocota. Os animais de estimação eram a companhia da idosa que ficou muito tempo acamada em casa. “Carmelina foi tudo durante metade da minha vida. Não tivemos filhos porque já casamos com idade avançada, mas ajudamos muitos necessitados. Se ela estivesse aqui estaria comemorando com os outros 30 mil lesados esta ação da polícia. Só peço justiça, porque lugar de ladrão é na cadeia”, declarou o esposo da vítima.