Precisamos de gente criativa ou empreendedora? O ato criativo não é ato, é imaginação ou delírio, é tempestade de ideias ou pura teoria. Empreendedorismo ou inovação é colocar a ideia, é praticar a imaginação. O empreendedor toca as idéias (geralmente dos outros) a funcionar, como o povo japonês, por exemplo. As grandes empresas valorizam seu pessoal e denominam gestão de pessoas aquilo que era conhecido por Recursos Humanos. A mudança de nome se fez necessária porque o grande patrimônio das empresas é o seu funcionário gabaritado. Hoje não basta que um produto seja somente bom, ele tem que ser bonito, tem que ter design e qualidade. Não basta satisfazer o cliente e ser melhor que o concorrente. Tem-se que surpreendê-lo.
Veja que, há muito, o que valia para as nossas atividades era o conhecimento. Até o surgimento da internet o grande diferencial de qualquer profissão era a detenção do conhecimento. E ele, o conhecimento vinha dos livros e das vivências em velocidades mensuráveis. Quem sabia mais, valia mais. Aí a globalização equalizou os acessos e a informação, à velocidade da luz, estava ao alcance de qualquer um. Com a informação socializada o diferencial passou a ser dar conforto e facilidades ao cliente: estacionamento, água gelada, segurança, secretária peituda. De repente, todos ofertaram as mesmas coisas, ou seja, há um padrão e os clientes não conseguem mais discernir vantagens neste ou naquele pelo fato de que todos se parecem. Então a concorrência e sua ferocidade fez emergir a terceira onda, aquela que vai estabelecer quem é quem. Na terceira onda que vale é a reputação da empresa, se ela entrega o produto que promete, se ela zela pelo compromisso afirmado e se tem responsabilidade sócio-ambiental (tartarugas, baleias, reciclagem, baixa emissão de gás carbônico, entre outras).
Tudo isso vem das pessoas, da criatividade-inovação. As pessoas em primeiro lugar, o verdadeiro patrimônio. E é preciso formar pessoas, dar acesso à educação permanente, estimular à realização dos sonhos. Pesquisas recentes mostram que 70% dos funcionários de importantes empresas não recebe nenhum tipo de inspiração de seus supervisores. Então, tendem a ser tocadores de serviços e motivados a trabalharem rápida e eficazmente, para finalizarem suas tarefas e seguirem para as próximas. Não são pagos para pensar.
Andy Stefanovich em seu livro Olhe Mais Além propõe um método que possibilita que a pessoa seja mais inspirada. É o método LAMSTAIH – Look at more Stuff; Think About it Harder (olhe mais além e pense mais fundo a respeito). ‘epreciso aprender a ver possibilidade de vantagens onde o outro só vê desgraça. É bom estar antenado porque se sabe que o maior desperdício interno de uma empresa é a perda de tempo e o maior desperdício externo é a perda do cliente ou da credibilidade. Esses conceitos estão amplamente disseminados em literaturas atuais.
Jorge Anunciação e seus sócios da extinta Samur não levaram lucros em dinheiro, mas estabeleceram um orgulho que não tem preço. Sempre entregaram o produto que vendeu, surpreenderam os clientes, criaram uma grife até hoje lembrada e com fracassadas tentativas de cópia. De mais de 80 mil atendimentos em 7 anos somente tivemos uma interpelação judicial por suposto atendimento inadequado. Ficamos sem lucros financeiros, mas eternizamos a reputação dos sócios e funcionários. É isso que ficou, é isso que ficará.