Ver a escola toda montada na concentração da Avenida Sete de Setembro, pronta para o desfile, após meses de trabalho, é uma emoção que o carnavalesco César Augusto dos Santos Lima, 46 anos, quase não encontra palavras para descrevê-la. No desfile deste ano, este instante terá um ingrediente ainda mais especial. Após passar 16 anos nos Bambas da Orgia, ele finalmente está de volta à comunidade onde aprendeu os primeiros passos do samba, aos seis anos de idade, e dedicou boa parte de sua vida transformando letra de samba em fantasias e alegorias.
É dele a responsabilidade de levar para a avenida, o primeiro desfile da Sociedade, Esportiva, Recreativa e Cultural Unidos da Operária, no grupo especial do carnaval de Passo Fundo. A escola que surgiu há dois anos, a partir de um grupo de dissidentes da Bom Sucesso, e que tem na garra e na força do Tigre seu símbolo maior, pretende levar para a avenida entre 550 a 600 componentes. Para brigar pelo título, a vermelho, preto e branco aposta suas fichas no enredo “A conquista do Tigre na Guerra de Troia”
Cada detalhe das fantasias e alegorias passa pelo olhar atento de Guto, como é conhecido na comunidade. Com a experiência de quem acumula nada menos do que 15 títulos de campeão do carnaval, ele sabe que os jurados estão, a cada ano, mais exigentes e que qualquer deslize pode colocar a tão sonhada nota 10 em risco.
Provocado para falar da maior emoção vivida nestas quatro décadas de carnaval, Guto não hesita. “Foi aqui na minha comunidade este ano. Passei por uma experiência inédita. Estava assistindo ao ensaio do casal de mestre-sala e porta-bandeira, quando ela se aproximou e estendeu o pavilhão da escola para eu beijar. Foi uma homenagem pela minha volta. Nenhuma escola tinha feito algo assim. Uma emoção que jamais vou esquecer” conta emocionado.