OPINIÃO

Plínio, o velho

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Plínio foi um homem múltiplo, historiador, guerreiro, administrador e considerado como o maior erudito da história imperial romana. Morreu no início da era cristã, vítima dos gases vulcânicos da erupção do Vesúvio, em Pompéia. Seus pensamentos foram eternizadas por seu sobrinho Plínio, o jovem. Há uma carta endereçada a Trajano, ode Plínio clama pela diminuição dos rigores da lei romana aos cristãos. Sempre me perguntei porque era chamado de velho.

Em julho de 2008 palestrei na Casa de Oração André Luís com o título Velho Demais Para Viver, em contraposição a um título de filme conhecido como Jovem Demais Para Morrer. A pergunta era, e continua a ser, qual é a definição de velho, o que é ser velho, o que é velho?
Velho, segundo consta, é quem perde a autonomia sobre si mesmo, é quando cuidar de si mesmo se torna impossível, é quando não se quer mais tomar banho, velho é quando se perde a tesão sobre a vida, é quando não se vibra mais com as vitórias de seu time e não se lamenta mais sobre suas derrotas. Velho é quando se perde a esperança na juventude, é quando a música não encanta mais, é quando o dia parece igual a outro qualquer e é quando a opinião não é mais considerada, é quando se tem a clara sensação de que a gente mais atrapalha do que ajuda.

Estava reassistindo ao filme Chutando o Balde, onde Nicholson e Freeman decidem viver o que não foi possível em seus últimos meses de vida. Há na minha estante o livro Mil Discos Para Ouvir Antes de Morrer. Há outros por aí, como mil lugares para se conhecer antes e morrer, mil beijos para dar antes de morrer, mil amigos para abraçar antes de capotar, mil perdões para verbalizar antes de ir ver a vaca, mil perdões para serem perdoados. Como é que se pode morrer com mil coisas a serem feitas? Morrer com mil coisas a se fazer faz parecer que a vida foi uma bosta e, agora, o negócio é sair correndo porta à fora porque senão não haverá tempo para tudo. Parece que a vida não foi muita, a não ser o desperdício.

Todos têm medo de morrer, não há manual ou técnica para diminuir essa sensação independente da religiosidade de cada um. A única forma de amainar é a certeza de que se vai morrer em paz, sem que se tenha sacaneado pelo menos os que nos são mais caros. Morrer em paz porque não conheci ninguém que tenha morrido feliz.

Duas coisas: a primeira é que meu filho assistiu comigo jogos do Grêmio por anos a fio e a frase mais proferida por ele é – que várzea. Agora que finalmente começou a encantar vamos vender os guris. Que várzea. A segunda, mais grave, é o desencanto com o posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação aos mensaleiros. Não me refiro às justificativas jurídicas, pois disso nada entendo, refiro-me desconfiar da isenção dos juízes nominados pelo presidente do país estarem julgando aqueles que os indicaram ao cargo. O STF deixa de sê-lo para ser Advocacia-Geral da União, como alerta Ronaldo Caiado, na Folha dessa sexta-feira. É a mesma suspeição que todos os que conheço fazem em relação ao ilustre advogado do momento que está sendo procurado pela Interpol: não vai acontecer nada com ele porque nada de ruim acontece no nosso país a quem tem dinheiro ou é famoso. Que várzea, que bosta.

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