OPINIÃO

No pasaran

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Esta é uma expressão usada na primeira grande guerra e na guerra civil espanhola e que quer dizer resistência. Os anos bons não passarão porque permeiam nossas memórias surgindo assim, ao acaso, involuntariamente sem que signifique que gostemos mais do passado do que do presente.

Em 1974, ano em que comecei a namorar, descobri que havia xampu e creme rinse no mundo. Eu que era do desodorante Avanço ou Van Ess, eu que era do sabonete Phebo usava-o generosamente ao lavar meus longos cabelos. Depois, vestia jaqueta US Top e me sentia maioral, aos dezessete anos. A Globo, sempre ela, mostrava Marília Pera na novela SuperManoela. Eu já gostava de Marília desde Bandeira Dois, com Tufão, personagem de Paulo Gracindo. O que poderia ser melhor para o garoto do subúrbio que treinava judô na academia do Espanhol, tocava na Banda do Conceição, ouvia Hélio Ribeiro na Bandeirantes, tinha uma bela namorada e cuidava dos cabelos com xampu Cabelos e Pontas ? Melhor só se curtisse Sharif Dean, Stylistics, Marvin Gaye, Secos e Molhados, Raul e Elton John. E eu curtia. Minha vidinha estava perfeita.

Mas, foi melhor em 1975 porque, noveleiro como sou, curti Cuca Legal com Francisco Cuoco e Françoise Fourton e Bravo que retratava a história do maestro Di Lorenzo, na bela atuação do ator gaúcho Carlos Alberto, que era casado com Yoná Magalhães. Novas canções, novas curtições com Azimuth (na linha do horizonte) e Erasmo (por cima dos aviões). Descobri Agepê que era o cara que mais vendia discos no Brasil, além do Rei Roberto. Quando voltava da casa da namorada dava uma passada na casa do amigo de sempre, Rudiney Link. Lá, assistindo ao fantástico, curtimos o lançamento do clipe Lucy in The Sky With Diamonds de John Lennon com Elton John. Demais.

Meus amigos, os velhos amigos, pediram que contasse algo sobre os velhos tempos, aqueles imorredouros que nos dá a brisa do tempo que nunca se vai. Pois, foi essa brisa, a mesma, igualzinha a que senti na face no distante 1965, quando tinha oito anos, na manhã que caminhava como meu pai em direção da oficina mecânica que iria arrumar ao meu triciclo que me jogou aleatoriamente em 1974. Mas, também, poderia me jogar em qualquer ano, desses cinquenta e seis que já vivi. Não tive tempo ruim e se tive, não lembro. Talvez seja mais idiota do que penso ser pelo fato de que lembro mais das coisas boas que das ruins. Talvez seja isso que me dê olhar juvenil, talvez seja isso que retarde as linhas da idade que marcam a face de cada um de nós.

 

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