OPINIÃO

As memórias de Anildo Sarturi(FINAL)

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Nos 35 anos que viveu em Passo Fundo, entre 1952 e 1987, Anildo Sarturi foi protagonista de elite na área médica e na política passo-fundenses. As suas memórias, expressas no livro “Passo Fundo – Memórias”, são reveladoras quanto a isso, servindo, sobremaneira, para o melhor entendimento de uma cidade e uma época que, hoje, para o bem ou para o mal, não existem mais, ainda que se façam presentes, estigmatizados no dia a dia, muitos desses resquícios do passado.

Anildo Sarturi forjou as suas convicções políticas como militante da Juventude Universitária Católica (JUC), em Porto Alegre, nos anos 1940. Médico recém-formado em Sertão, na época distrito de Passo Fundo, filiou-se no PSD. Depois, desiludido com esse partido, aderiu ao PSP, de Ademar de Barros, pelo qual se elegeu suplente de vereador, em 1952. De qualquer forma, Anildo Sarturi também não se sentia confortável no PSP de Ademar de Barros, que era conhecido pela alcunha de “rouba, mas faz”. Católico fervoroso que era, tendo sido, inclusive, por convite do padre Jacob Stein, um dos oradores da consagração do bispo Dom Cláudio Colling, em 1950, sentia-se atraído pelo Partido Democrata Cristão, que se encontrava em formação no Estado. Foi então que, instigado pelo jornalista Carlos de Danilo Quadros, abraçou a causa do PDC, tendo participado da fundação de diretórios em 21 municípios da região.

Na política local, Anildo Sarturi teve êxitos e, paralelamente, acumulou frustrações. Elegeu-se vereador, os candidatos à vereança apoiados por ele foram eleitos, caso de Juarez Diehl e da própria mulher, Linda Degrazia Sarturi, mas não obteve o sucesso que esperava nas suas candidaturas a deputado. Ainda no PDC, Anildo Sarturi, no pleito de 1963, contava como certa a eleição para deputado estadual. A candidatura, de última hora, do também médico Helio Rosa, pelo PDC de Carazinho, atrapalhou as suas pretensões. Mas, traição mesmo, Anildo Sarturi entende que sofreu de parte de Dom Cláudio Colling, que, segundo ele, “por espírito ardiloso, traiçoeiro, não sei se dos dois”, nos áureos tempos da Liga Eleitoral Católica (LEC) não incluiu o seu nome na lista aprovada pela Diocese de Passo Fundo. Foi uma decepção para o católico praticante Anildo Sarturi, pois era pela lista da LEC que os padres indicavam aos fieis os candidatos preferenciais nas eleições.

Amargou uma segunda suplência, mas acabaria, em 1964, assumindo como deputado estadual pelo PDC, por um período de pouco mais de um ano. Nessa temporada em Porto Alegre, pela parte da manhã, começou uma especialização em psiquiatria, no pavilhão Melanie Klein, junto ao Hospital Psiquiátrico São Pedro. Com a volta a Passo Fundo, não terminou o curso, virando, segundo se autointitula, uma espécie de “psiquiatra amador”, que, credenciado na especialidade pelo INPS, introduziu o uso de eletrocheques no tratamento de doenças psicóticas na cidade. Essa experiência lhe habilitou para assumir a cadeira de Psiquiatria quando da criação da Faculdade de Medicina da UPF.

A partir do golpe militar de 1964 e o advento do ato institucional que baniu os partidos político no País, instalando o bipartidarismo, com a ARENA e o MDB, Anildo Sarturi aderiu, como seria esperável, à ARENA. E foi pela ARENA que, conforme explicita nas suas memórias, sofreu as derradeiras traições políticas locais. A primeira, por Fidêncio Franciosi, que, como presidente da agremiação, entregou a sigla aos egressos do PTB/MTR, caso de Romeu Martinelli e Augusto Trein, alijando-o da política passo-fundense. E, a segunda, pelo Coronel Edu Azambuja, de cuja candidatura a prefeito foi um dos artífices, que inicialmente o preteriu como candidato a vice-prefeito, em favor de Juarez Zilio, e, depois se alinhou com os seus inimigos políticos.

Em Passo Fundo, de 1952 até 1987, Anildo Sarturi formou uma clínica médica respeitável e construiu uma base política que desmoronou, na sua visão, pelas traições que sofreu. O epilogo da sua vivência local foi o assalto no seu consultório médico no dia 1º de dezembro de 1987. Deixou a cidade de vez, para viver junto da família, que já estava em Porto Alegre. Atualmente, na plenitude dos seus 93 anos, Anildo Sarturi pode ser encontrado nos cafés da Padre Chagas ou em passeios pelo Moinhos Shopping.

 

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