OPINIÃO

Gama II

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Há, por obrigação e para que se evite a injustiça de deixar de mencionar colegas e professores significaram em nossas existências concluir as impressões sobre o momento mágico pré-vestibular e o Gama Vestibulares.

A primeira vez que fui ao Gama foi para colher informações. Lá estampava-se Osvandré, imortalizado, sorridente e autoconfiante, em um out-door. Bem bolado porque transmitia a energia necessária para iniciar a grande empreitada de estudos. Eduardo Fernandes apontou-me um cara que estava ao balcão com raquete de tênis e disse: é esse o cara que vai sair da Banda do Conceição e que tu vais substituir. Era Tadeu Feres, hoje ecografista e gineco consagrado. Pensei que somente um maluco para abandonar a banda. Logo mais tarde, ao sair do cursinho e ir ensaiar com a banda, ao lado de Clóvis Frainer e de minha namorada, lembro como se fora há um minuto que o radiozinho daquela sapataria sublimava bem alto Michael Jackson em One Day in Your Life. Trilha musical Gama. Legal, não é?

Matriculei-me basicamente para compreender matemática, física e química. Anete De Césaro substituiu a professora Jussara para dar aulas de matemática com a mesma competência profissional, mas não aos nossos suspiros juvenis. Saletinha emprestava um inigualável carinho e mimo familiar tão necessários a quem enfrenta incertezas e Ivo Vieira, professor de química, hoje médico, ensinou técnica de raciocínio memorável. Na última aula decretou: se tu estudaste de acordo com o combinado vai a dica. Se levares mais de quinze segundos para montar a fórmula é porque lestes a questão de maneira errada. Bingo, de vinte e cinco questões de química gabaritei dezenove na UPF.

De Santa Maria vinha como reforço para química orgânica um professor do qual não recordo o nome. Uma de suas aulas foi dada no Colégio Bom Conselho num sábado de primavera. No intervalo lembro bem o som ambiente: Moro Onde Não Mora Ninguém, de Agepê. Em outra ocasião, num domingo de manhã, após aula no auditório do NPOR, caminhei pela Uruguai em direção a casa da namorada Zuza e encontrei Beto, que chamavam de Beto Louco, na baixada próximo ao Beco do Susin. Perguntou-me o que eu fazia com livros em pleno domingo. Disse-lhe que estava em aula. Aula aos domingos? Depois dizem que eu é que sou louco, completou.

Meus estudos ao vestibular começaram solitariamente, em casa: biologia, depois português de Ceres e Alcides Sartori, depois o material do Mauá e do Integral. Quando em agosto de 75 ingressei no Gama já havia lido quase tudo. O cursinho, por si só não aprova ninguém. Perceba, caro amigo e amiga, que a vida do garoto da vila tinha estudo e lazer, novela, música, namorada e banda do colégio.

Fui aprovado em Santa Maria em Engenharia Florestal e em Medicina aqui na terrinha. Não houve grandes comemorações, eu me sentia confiante na aprovação, havia me preparado para isso. Queria Florestal, sou médico. O por que dessa troca preciso conter em outra oportunidade.

Cursinho é sedução, é hipnose e é encanto. Havia a mágica da juventude, havia os caras que davam aula e que faziam a gente acreditar que era possível e que só dependia da gente. Tinha amigos que se fizeram eternos, tinha gente que não conseguiu a aprovação, tinha amigos compenetrados e havia os hilários. Tinha, também, Paulo Bacchi de Sarandi, irmão da Sílvia e Raquel, que parou o trânsito de Santa Maria sob torrencial chuva naquele início de 1976 quando as provas terminaram e a quem dedico essa crônica, em homenagem a seu eterno sorriso e sua imorredoura juventude. Ao Paulo Bacchi, o cara que parou o trânsito de Santa Maria e que gritava com todos nós, a plenos pulmões: Gama, Gama, Gama...

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