O período pré-eleitoral não é desculpa para se ofuscar uma investigação. Por isso, a pretendida CPI para elucidar pontos obscuros na estatal Petrobras, pode ser necessária, ou dispensável, na proporção em que outros esclarecimentos oficiais permitam conclusão clara sobre o que aconteceu nas negociações de Pasadena, estado do Texas nos EUA. Ninguém contesta as informações de que houve grande prejuízo à empresa estatal, com indícios de corrupção. O fato é grave, sem dúvida.
Petróleo e transparência
É preciso verificar se o TC, a PGE ou próprio procedimento inquisitório instaurado pela presidência da Petrobras será suficiente para o indispensável esclarecimento e responsabilização. É também certo que o partidarismo acalorado instiga vorazmente as denúncias. Ótimo! Isso é democrático e republicado. “Mas vai prejudicar a imagem do país”, etc., e tal? Atrapalha um pouco, e daí? É o preço inadiável, sob pena de jogarmos uma questão ao esquecimento. É bom que se crie um clima tormentoso.
O que não pode acontecer é deixar em paz a falcatrua. Se a oposição está demais furiosa e procura atingir as hostes governistas, sabendo-se dos interesses eleitorais, não tem problema: o bloco governista tem o direito e obrigação de atacar questões no campo da oposição, trocar balas. É assim na democracia. É preciso saber que as fontes de investigação não são tão puras nas suas intenções. Mas será a agitação das águas turvas que correm no leito do rio e redemoinham nas cascatas, o grande fator de purificação. O mais importante é elucidar tudo e punir culpados, especialmente corruptos. Investigação contra o crime não pode parar, e não pode fazer feriado.
Rádio Planalto
Depois de funcionar por três meses em caráter experimental, desde 1968, a então ZYH – 211, Rádio Planalto de Passo Fundo, foi inaugurada em 5 de abril de 1969, com 5KW de potência. Foi uma revolução no rádio regional. Sub a orientação geral do Padre Paulo Farina, um grupo de técnicos, redatores, locutores e repórteres, iniciaram os trabalhos. Tive a ventura de fazer parte ativa da equipe de profissionais.
Os mais antigos foram passando a experiência e a gente foi evoluindo. A gente lembra que os tempos não eram favoráveis a uma comunicação livre, pois estávamos em plena ditadura. Isso contrastava com a ânsia dos operários da informação que eram jovens e logo alcançávamos uma popularidade expressiva, pois eram apenas três emissoras de rádio na cidade. Gravei bem uma coisa: uma equipe que relutava contra os erros comuns – prezando a autocrítica.
Programas musicais exigiam mais que anunciar música, recomendando-se a tradução de algumas palavras dos sucessos internacionais, especialmente em inglês, italiano e francês.Como a notícia e opinião eram terreno temerário, a música supria anseios do comunicador e do público. Havia noticiário da manhã à noite, oportunidade que tive de atuar como repórter, redator e noticiarista. A severidade da censura exigia dedicação e aplicação no uso da palavra, como responsabilidade semântica e zelo pelo vernáculo.
Percebe-se hoje que foi enorme aprendizado cultural e de relacionamento.
Dom Cláudio
O bispo diocesano, idealizador da rádio, Dom Cláudio Colling era liderança de excepcional descortino administrativo. A equipe, no entanto, salvo o Pe. Carlos Kipper, um dos maiores intelectuais que conheci, era um time laico. O próprio bispo - presidente da rádio, era contestado. Ele também errava, e chegou a ser respeitosamente contestado. O padre Farina tinha um jeito especial de fazer a ligação entre uma equipe que se mostrava indômita e Dom Cláudio, figura raramente contrariada na cidade.
Com seu alto prestígio perante o sistema político ditatorial brasileiro, a ousadia dos mais afoitos comunicadores ganhava espaços protegida pelo cacife do prelado católico que resolvia internamente quando os agentes da ditadura se irritavam. É preciso registrar que a gente não era preso, também, pela aura dos chefes. Caso contrário, não se sabe o que seria.