OPINIÃO

Semana das letras e escritores locais

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A 3ª Semana das Letras, que começou na última segunda-feira (7) e vai se estender até hoje (11), sempre das 17h30min às 19h, no auditório da Academia Passo-Fundense de Letras (Av. Brasil Oeste, 792) trouxe para o centro das atenções os chamados, sem qualquer conotação pejorativa, “escritores locais”. Afinal, quem são eles? Que estão escrevendo? Como estão produzindo suas obras? Esses escritores ultrapassam, com seus livros, as fronteiras municipais e os laços de amizade e o círculo familiar? Que é necessário para se formar um escritor?

A professora Tania Rösing, na conferência de abertura, “Como e quando nasce um escritor?”, identificada com o processo de formação de leitores, optou por trazer o exemplo da escritora pelotense Lygia Bojunga, não deixando margem para qualquer dúvida que ela, Tania Mariza Kuchenbecker Rösing, acredita que o leitor antecede o escritor. Não é sem razão que cursos de formação de escritores contemplam boa parte do programa dedicada à leitura dos cânones, antes de tratar propriamente da técnica de escrita criativa. Então, senhores candidatos a escritores, se é a professora Tania que está dizendo, não duvidem, sigam o conselho e intensifiquem suas leituras.

Na terça-feira (8), um momento que eu rotulo de sublime, foi quando os escritores locais reuniram-se e, publicamente, em breves palavras disseram quem são e porque escrevem. Depois, uma sessão de autógrafos coletiva mostrou a força desses escritores e porque, independentemente de julgamento crítico, seja qual for a plataforma (papel ou digital), é gratificante, para quem escreve, ver a sua produção materializada em uma obra que pode ou não ser apreciada por terceiros. Acompanhei, à distância e ao mesmo tempo de perto, os preparativos dessa sessão de lançamento de livros dos autores locais, em reuniões que eram realizadas aos sábados pela manhã, na sede da APL. Sem detrimento dos demais, tive de selecionar um livro e um autor para referir nesse espaço. Escolhi: “Palavras do Coração”, de Vivi Maciel. Uma autora que me passou o sentimento de extrema felicidade por viver aquele momento único de lançamento do seu livro. Acompanhada do marido e dos filhos, irradiava simpatia. Em cada autógrafo que distribuía, fazia questão de uma fotografia com o futuro leitor do seu livro e coroava o ato com a entrega de uma rosa. Na poesia de Vivi Maciel, tudo é sentimento e tudo é emoção, pois como bem a definiu Paulo Monteiro, no prefácio que assinou, estamos diante de uma poetiza intimista de primeira grandeza.

Miguel Rettenmaier, o catedrático do Programa de Pós-graduação em Letras da UPF, na quarta-feira (9), nos brindou com uma conferência magna: “Leitores (e escritores) em formação; virtuais alternativas”. O professor Rettenmaier, na condição de curador do acervo Josué Guimarães, que, para nosso privilégio, é hospedado na Universidade de Passo Fundo, destacou o papel das bibliotecas pessoais, no formato convencional dos livros impressos, na formação dos escritores do passado, e, nos tempos atuais, realçou as inúmeras possibilidades que se abrem com as novas mídias da era da conectividade digital. A sua fala, em certos aspectos, foi alentadora para os escritores locais, pois, com os casos de sucesso que citou, a chamada periferia cultural, Passo Fundo em relação a Porto Alegre e Porto Alegre em relação a São Paulo, por exemplo, estaria deixando existir. Abrilhantando a noite, a leitura do conto “A Senhora Webster”, de Agostinho Both, pelo ator Beto Mayer, e, Francisco Melo Garcia (Xiko Garcia), em versos de lavra própria. As demais noites (quinta e sexta-feira), que, enquanto escrevo essa coluna, ainda não aconteceram, deixo para outra ocasião.

Eu se tivesse que dar a minha receita para formar um escritor, de forma irresponsável, diria a um jovem pretendente a poeta, que aprenda as regras da métrica ainda que seja para infringi-las de forma ostensiva, mas consciente, e não deixe de versificar as suas paixões. E, para um pretenso romancista, que a par do domínio da língua culta, saiba criar meia dúzia de personagens (nomes) e coloque-os a conviver diariamente, narrando com sutilezas os detalhes desse dia a dia, até encher o número necessário de páginas. Simples assim! Ou faça como eu: fique na superficialidade das crônicas de opinião.

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