O cerco em torno do homem que, em menos de duas décadas construiu uma das maiores fortunas do Rio Grande do Sul, aos poucos vai se fechando. Em uma das pontas, Polícia Federal e Ministério Público Estadual vasculham pilhas de documentos reunindo provas sobre um dos maiores golpes aplicados no Estado. Na outra, milhares de vítimas se movimentam em busca de informações sobre os processos na expectativa de reaver os valores subtraídos de maneira fraudulenta.
Procurado pela Interpol, o advogado Maurício Dal Agnol, é acusado de ter desviado cerca de R$ 100 milhões e lesado mais de 30 mil clientes acionistas da extinta CRT. Nos próximos dias ele deve ter o visto de permanência nos Estados Unidos, seu provável paradeiro, cassado, assim como os vistos dos dois filhos e da esposa.
Na ação mais recente, a Polícia Federal descobriu quinta-feira, através de uma denúncia anônima, um pavilhão onde o advogado escondia um verdadeiro arsenal, com armas e munição, além de duas salas abarrotadas de cópias de processos e documentos.
O fato gerou o sétimo inquérito instaurado até agora pela PF contra Dal Agnol desde que a Operação Carmelina foi desencadeada, no final de fevereiro. Um deles já está em fase de conclusão e deverá ser remetido ao MP nos próximos dias. “Logo estaremos abrindo outros 21 inquéritos referente às vítimas lesadas” prevê o delegado Mário Luiz Vieira, um dos responsáveis pelo caso.
Conforme apurou a PF, a lista dos clientes que, em tese, teriam direito às ações da Brasil Telecom é de 475 mil pessoas. “Não chega a ser uma investigação complexa porque existem muitas provas, mas trabalhosa em razão da quantidade de pessoas envolvidas. Em volume de dinheiro é um dos maiores golpes aplicados no Rio Grande do Sul” avalia o também delegado da PF, Mauro Vinícius Soares de Moraes. A descoberta das armas não foi o único contra-golpe sofrido pelo advogado esta semana.
Pagamentos cancelados
Na terça-feira, a Corregedoria Geral da Justiça havia encaminhado uma circular a todos os juízes de primeiro grau do Rio Grande do Sul. No documento, o desembargador corregedor Tasso Caubi Soares Delabary determinou ao Banrisul o cancelamento de todas as ordens de pagamento ainda não sacadas geradas através de alvarás tendo como autorizado o advogado Dal Agnol. O corregedor recomenda ainda a intimação pessoal de todas as vítimas dele para renovação dos mandatos autorizados a ele.
Já o Ministério Público, além de ser o responsável pelo processo criminal que desencadeou a operação Carmelina, também ingressou na Justiça, através da 4ª Promotoria de Justiça Especializada, com uma ação cautelar solicitando informações sobre os processos dos clientes de Dal Agnol ou do escritório dele.
O pedido foi deferido em 17 de março pela juíza da 4ª Vara Cível, Luciana Tieppo, que determinou prazo de 10 dias para cumprimento da decisão. Caso contrário, a multa prevista é de R$ 500 mil por dia. “O prazo começa a ser contado a partir da notificação e já está se esgotando. Os dados fornecidos serão disponibilizados para todos os interessados e examinados criteriosamente pelo MP. A partir disso, poderemos avaliar as providências cabíveis para o ressarcimento de danos sobre o enfoque coletivo” explicou o promotor Paulo Cirne, autor da ação.