OPINIÃO

A quinta estação

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A quinta estação

A via sacra, a cada estação, revela episódios presentes na vida humana, em que Jesus Cristo é condenado pela inveja e truculência do poder social, traído por Judas, torturado, vilipendiado e morto. “ Tristis est anima mea, usque ad mortem” – “minha alma está triste até a morte”, como narra o Evangelho, ao descrever a angústia de Cristo no horto das Oliveiras, abandonado até pelos próprios amigos. Cada gesto, olhar, suspiro de angústia e sofrimento, cada palavra uma fonte inesgotável de reflexão. Mesmo para os que não crêem na densa história de Cristo, nem se impressionam com a abordagem dramática de uma existência de vida e morte, existe o imaginário que não se faz absorto na comparação com o cotidiano. Na atualidade, qualquer observador leigo pode deduzir a importância de algumas passagens. Uma delas é o momento em que Simão Cireneu ajuda a levar a cruz. Ajudar as pessoas a levar sua cruz, desprendidamente. A postura humana em relação às dificuldades do próximo é a questão básica da convivência. Na estação seguinte, Verônica enxuga o rosto de Jesus ensangüentado. A cena aponta atitude ilimitada de respeito ao ser humano sofredor, e a oportunidade de um gesto solidário, ainda que não se tenha o poder de resolver problemas de um irmão. Tudo, tudo é repleto de significado, nesta maratona de sofrimento que é a Via Sacra, onde há a suprema brutalidade humana dos opressores e a mais terna expressão de amor de alguém que morre perdoando e tornando sua própria mãe a mãe de humanidade.

Sem esgoto
A geração atual está marcada por advertências graves quanto ao respeito ao meio ambiente, mas ainda é muito pouco. No Brasil, metade da população está sem o saneamento. Tudo se concentrou na cidade, sem planejamento eficaz. Estamos atrás do Chile, Equador e de Honduras no item tratamento de esgoto cloacal. Com isso gastamos muito mais em remédios, e vemos reduzir a capacidade de produção de nossa gente, nas fábricas e na escola. Hepatite e outras doenças, embora o silenciosas, são o desafio monstruoso do estado que expõe crianças e adultos.

Jornalismo respira
Alberto Dines voltou a examinar o tema sobre a violência e abuso contra a mulher, debatendo com excelentes jornalistas: Flávia Oliveira, Fátima Jordão e Leonardo Sakamoto. O programa na TV Brasil relata que nosso país está atingindo os maiores índices mundiais na violência contra a mulher, especialmente o assustador patamar de estupros e outras formas de violência sexual. E grande parte das vítimas são meninas entre 12 e 15 anos.

A prepotência
A violência instalada nos casos de crimes de estupro apresenta-se como um clímax da onipotência masculina. Tudo influi, a partir dos comandos na família que alija as filhas em preferência patrimonial aos filhos homens, até os filmes americanos que retratam a lascívia nas universidades, vulgarizando adolescentes numa falsificação da noção de liberdade sexual. Mas, os jornalistas questionaram fortemente o papel da mídia e dos próprios agentes da notícia, lembrando que modernamente a presença de mulheres na redação é acentuada, muitas vezes majoritária. Então, como é que prevalece sempre a utilização da mulher nas campanhas de cerveja, carros, bancos, sem o esperado questionamento feminino? A jornalista Flávia Oliveira respondeu com serenidade que já está ocorrendo movimento de inconformidade com os exageros da mídia. Bem sabemos que a história vem de longe. A Bíblia, por exemplo, não escala nomes femininos na genealogia, salientando a supremacia masculina presente nas religiões cristãs. O noticiário bíblico é machista, desde Adão, Cainã, Jared, Matusalém, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Judá, Davi, José, e assim por diante. É a genealogia Clube do Bolinha. Por isso, as mudanças demoram um pouco. Sem moralismos, a mulher não precisa ter culpa pela ação de psicopatas de todos os graus. Os interrogatórios de investigação, pelo menos, já não se ouve mais pergunta idiota do policial, tipo, “Você usava saia curta ou longa?”. Aí não dá! É a autoridade estatal estuprando o cérebro!

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