O chamado Princípio de Peter nasceu com a publicação, em 1969, do livro homônimo, “The Peter Principle – Why Things Always go Wrong”, pelo professor da área de educação da University of Southern California, Laurence Johnston Peter (1919-1990), em parceria com o jornalista Raymond Hull. Desde então, mesmo os autores não fazendo parte do grupo dos gurus do mundo dos negócios, tornou-se um clássico na área de gestão empresarial. Em resumo, estabelece que, nas organizações burocráticas e hierarquicamente estruturadas, os funcionários/empregados tendem a ser promovidos até ao seu nível de incompetência. Ou, podendo significar também que, em uma organização qualquer, com o tempo, cada cargo tende a ser ocupado por um funcionário/empregado que é incompetente para executar as suas funções. E como nessas organizações, particularmente as públicas, rebaixar funcionário/empregado não é algo habitual (quando não impedido por lei), as pessoas permanecem nessas posições, em prejuízo da instituição. É exatamente a isto que Laurence Peter e Raymond Hull denominam de nível de incompetência - o nível a partir do qual as pessoas não têm competência para a posição que ocupam.
Apesar da aparência de sátira, há lógica no Princípio de Peter. A trajetória profissional de muitas pessoas serve como demonstração cabal. Nada garante que alguém promovido pelo bom desempenho num cargo terá êxito no novo, em que são exigidas habilidades diferentes. O exemplo clássico é o do empregado promovido a gerente sem ter qualificações para tal, fazendo com que a empresa perca um empregado competente e ganhe um gerente incompetente. A consequencia (inaceitável), levando-se ao extremo a visão fatalista desse princípio, é que, com o tempo, toda a estrutura deste tipo de organização seria ocupada por incompetentes, conforme expressa o título de umas das traduções brasileiras do livro de Peter e Hull, “Todo Mundo é Incompetente, Inclusive Você”.
A ideia do Princípio de Peter foi adaptada pelo quadrinista Scott Adams, que criou o Princípio Dilbert (em artigo no Wall Street Journal em 1994 e em livro de 1996). Pelo Princípio Dilbert: os funcionários mais ineficazes são sistematicamente transferidos para onde podem causar menos danos, a gerência. Quem acompanha as tirinhas de Scott Adams publicadas nos jornais sabe que Dilbert é um anti-herói, que vive mergulhado em burocracia e cercado de incompetência, passando a maior parte do dia (como a maioria de nós) agindo feito um idiota. A escolha parece difícil (até porque, no fundo, é a mesma coisa): o incompetente de Peter ou o idiota de Adams? O desfecho inevitável, por esses princípios, é a remoção/demissão dos empregados em foco, pois, do contrário, a organização afundaria, quando a quantidade de incompetentes/idiotas em seus quadros atingisse certa massa crítica.
Nem Peter e nem Dilbert. Por maior que sejam as suas aparências de veracidade, esses princípios são desmentidos com facilidade. Promoções malsucedidas não encontram explicação nesses princípios. Primeiro por serem conceitos demasiados simplistas. Desempenho insatisfatório em certas situações não é algo raro. A seleção/escolha da pessoa certa para o cargo certo tem responsabilidades superiores (pessoas, comitês de busca, etc.). O clima de zero erro ou zero fracasso, mais inibe a iniciativa das pessoas (pelo temor) do que melhora o desempenho das organizações. Também a história está repleta de “incompetentes” que, depois de fracassos, se revelaram grandes sucessos. Por enquanto, os princípios de Peter e de Dibert, pelo que parece, mais têm servido para justificar a vibração de desafetos, que se inebriam com a ideia de que o chefe chegou a um ponto em que, inevitavelmente, passará a demonstrar incompetência.
O maior desastre em uma organização não é a incompetência/idiotice do chefe, nos moldes do Princípio de Peter e/ou do Princípio Dilbert. É, especialmente, uma questão de idoneidade moral do gestor. Uma pessoa psicologicamente deformada, quando ocupando posições gerenciais elevadas, distorcendo fatos, perseguindo desafetos e fazendo denúncias públicas que acabam levando anos para serem demonstradas como falsas pode causar estragos de proporções muito maiores do que é capaz de fazer qualquer incompetente/idiota.
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