OPINIÃO

Coluna Celestino Meneghini

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Cães em alta
A mídia estadual recalcitrou durante três dias e três noites sobre a priorização, ou foco de pauta, diante de um fato inusitado: o cão fiel que aguardava seu dono do lado de fora do hospital que atendia o dito homem. Em princípio, nada demais nobre e edificante neste crescente modo de observar a vida dos seres terrestres, quando os comunicadores perceberam que o cão, companheiro de um andarilho, debruçava-se sobre as patas com olhar melancólico e solitário. E foram repetidas alusões ao tema que se prenunciava recorrente pela atitude do cão companheiro. Lá no terceiro dia, após a insistente espera do cão, que virou celebridade midiática, alheio à transformação, vieram outros detalhes que ocuparam pequena parte do noticiário. Constatou-se que o dono do cachorro era um ser humano, também sofrido, e doente, que ali estava internado recebendo tratamento intenso acudido de vários males. Aquele homem, que foi reapresentado a seu cão (já célebre) foi revelado, ligeiramente, como beneficiários do SUS, e que vinha recebendo atenção de enfermeiros e médicos, com internação hospitalar. Na rápida aparição do assistido pelo sistema estatal de saúde, ficou a impressão de um bom e digno atendimento. Em nosso modesto entender não existe fato mais nobre do que uma pessoa sem recursos receber a atenção gratuita do seu país e ressurgir renovado. E se, num segundo momento, este beneficiário sair para a vida e tiver um cão companheiro, isso será muito bom. Mas, o mais importante é a postura da entidade que o acolheu e lhe devolveu a saúde o quanto possível. Este fato, obrigação social do Estado, pode não ganhar manchete na escalada equivocada dos valores, mas é fundamental e digno de ser conhecido pela população. Sempre tive apreço por cães, animais de enorme afetividade, e mais ainda pelas vacas leiteiras. Mas, a atenção ao ser humano, com a vênia dos pauteiros, é muito mais edificante.

Trabalhador
Mesmo que não seja papo da moda (estigma capitalista), desde menino incluo-me entre os que se sentem honrados por trabalhar. Por isso, um dos acintes culturalmente graves na ditadura de 64, foi a obliteração do significado, sob ridícula censura, de datas sagradas para a população civil, como é o dia do trabalho. Digo obliteração porque foram sonagadas (na ditadura) celebrações de verdadeiras memórias. Enfim, neste período horrendo para a cultura, tudo o que inspirasse a força e grandeza coletiva do trabalhador era considerado insidioso, ou comunista. Era praticamente proibido falar-se em Getúlio Vargas - presidente que editou legislação criando o salário mínimo em 1940 e criou a Justiça do Trabalho em 1941.

Trabalhador – II
Com o massacre de operários em Chicago (1886), o dia 1º de maio foi consagrado mundialmente, inclusive no Brasil, a partir de 1925, por ato do então presidente Artur Bernardes. As lépidas transformações eletrônicas no trabalho não podem diminuir o valor histórico da luta pelos direitos do trabalhador.

Retoques:
* Lamentavelmente não pude comparecer ao encontro com Juremir Machado, lembrado pelo professor José Ernani de Almeida. Em Passo Fundo o púgil e competente jornalista discorreu sobre o tema de sua obra que aborda a participação da mídia, sociedade civil e militar, nos tempos da ditadura. Além de sua coragem moral, Juremir é voz soberana na arte do vernáculo como vergasta implacável que se opõe à mediocridade memorial.
* Se o palanque político exagera nas promessas, não é menos vicária a ação dos economistas que criam expectativas ilusórias favorecendo nichos de investimentos ao orquestrarem notícia favorável à especulação. Agora, por exemplo, economistas apregoam disparada no preço dos alimentos. Na verdade, há retração no consumo de carnes de porco, aves e de boi. Tendência é baixar o preço, caso o consumo externo não incremente novas exportações. Então, cuidado com os economistas! Eles podem ser mais voláteis que os palanques eleitorais (ou eleiçoeiros).

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