A negligência supera a violência física

Em Passo Fundo, pais e mães são responsáveis por quase metade dos casos de negligência, segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República

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O abandono afetivo, considerado uma violação grave dos direitos fundamentais de criança e adolescente, tende a ser subestimado pela sociedade, mas é uma das formas mais comuns e cruéis de violência. Em Passo Fundo, por exemplo, a negligência de cuidados, carinho, atenção, afeto correspondeu a 44% do total de 155 denúncias protocoladas em 2013 envolvendo vítimas menores de idade. De janeiro a março deste ano foram 25 casos, o que representa mais que um terço do total registrado em todo o ano passado.

O levantamento mostra que os pais, que deveriam zelar pela alimentação, saúde, desenvolvimento, amparo e higiene, são os que mais cometem este tipo de violação, que inclusive supera as denúncias de violência física e sexual. As informações são catalogadas pelo Sistema de Informações para a Infância e Juventude (coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República), que recebe e encaminha as denúncias de todo o Brasil, através do Disque 100. Segundo o sistema, as mães foram acusadas em 27% dos casos e os pais, renegaram cuidados aos filhos em 16% das denúncias encaminhados entre 2012 e 2014.

Para a psicóloga, especialista em saúde da família Rita de Cássia Tassi, este tipo de violação é realmente danoso, porém geralmente não é levada a sério em sua gravidade. “É como uma tortura. Ela humilha, diminui a autoestima e que amedronta pelo constante sentimento de solidão e pela privação afetiva. Se caracteriza quando há xingamentos, rejeição, isolamento, ameaças, descaso e pressão contra a criança, em favor das necessidades e sentimentos dos adultos. Pode se manifestar inclusive por interações que não são suficientes ou consistentes, mas que privam a vítima de carinho, atenção, afeto e do conforto de uma boa companhia”, explica. 

A especialista observa ainda que a negligência não escolhe classe social. “A violência doméstica contra crianças e adolescentes é democrática. Pode ser encontrada em qualquer família, independentemente de raça, credo, condição social ou cultural. Pode haver situações em os pais apenas supram as necessidades materiais e ignorem as necessidades básicas e fundamentais como amor, carinho, proteção e afeto”.

Violência física

É comum que pais reiteradamente negligentes com os filhos pratiquem também agressões físicas, fato que é confirmado pelo levantamento e advertido pela psicóloga. As mães foram denunciadas como autoras do crime em 37% dos casos registrados e os pais em 28%. Em 2013, foram 23 denúncias, mas nos primeiros três meses de 2014, a agressão física contra os filhos já soma um terço do total registrado ao longo de todo o ano passado (8).  “A negligência geralmente é a primeira violação que pode resultar em outras mais graves. Muitas crianças se retratam perante a rede de proteção e negam maus tratos, por medo de represália, ameaças à sua integridade, a integridade de pessoas ou bichinhos que elas amam, ou até mesmo retiram o que contaram numa tentativa de agradar quem a agride e conquistar seu amor”.

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