Sob ameaças de Paulo Rigon, Ivaldino Tasca e Osvandré Lech estou condensando crônicas editadas nos últimos seis anos em O Nacional. A ideia é publicar dois volumes separados por assuntos. Em um deles intitulado Enquanto o Médico Não Vem mostra o lado observador do médico em situações de conflitos em frente a doenças, perdas e questionamentos espirituais-religiosos. No outro intitulado De Mais Ninguém são considerações puramente subjetivas e de mais ninguém à cerca do cotidiano. Pedi a gentileza de Osvandré e Ivaldino para prefaciarem esses ensaios.
Há uma semana houve um momento mágico na vida de oito amigos que deixaram de conviver há quarenta anos. Era uma turma que cresceu batendo bola na avenida Benjamin Constant em Cruz Alta. Cada qual foi para o mundo em busca dos destinos. Uns voltaram e permaneceram na cidade natal, outros como meu irmão Renato (o pata) e eu somente retornaram para visitas esporádicas.
Foi emocionante para todos por sermos reconduzidos à infância e de todos guardei instantâneos que me serviram a desenvolver parte do que eu sou. De um guardei as dificuldades financeiras que vivera quando universitário em Santa Maria, do outro as lutas do dia-a-dia, enfim. Ali reunidos estavam os vencedores na vida. Alguns bem situados financeiramente, outros nem tanto. Alguns com vidas sentimentais sedimentadas, outros não. Mas, todos estavam inebriados, um pouco pela cerveja, é claro, pelo retorno ao convívio. Parece que, por mágica, éramos novamente aqueles meninos que começaram a conviver entre 1965-75 em que a certeza única que nos habitava é que seríamos felizes. Estávamos certos porque neste final-de-semana essa era a conclusão.
À Cruz Alta de 1965 não havia acesso de asfalto por lado nenhum. Uma viagem a Porto Alegre durava um dia, uma ligação telefônica a São Paulo somente era completada em quatro horas se tivéssemos sorte. Foi aí, nesse tempo, em que a admiração pelo meu irmão Renato, o Pata, cresceu. Percebi nesse reencontro que ele é unanimidade entre seus amigos, entre todos nós, pela pura explosão de energia e alegria. Quarenta anos após percebi que esse elo é inquebrantável. Sorríamos todos, mas mais ele do que a todos. O Pata teve suas dificuldades na vida e no dia-a-dia não é somente sorrisos e teve muitos momentos de menos-valia. Mas, não naquele dia, quando foi reverenciado por todos. Meu irmão Pata, te amamos e te admiramos por todas as coisas que você gratuitamente ofereceu aos que conviveram e convivem contigo. Ainda necessitamos muito da tua espontaneidade e bom humor e a vida fica muito mais leve quando compartilhada com o Pata, nosso herói do cotidiano.