Quando o cronista escorrega
Antes dos grenais a maioria dos cronistas exaltava o meu Grêmio e demonizava o lento e desarticulado Inter. Bastaram duas derrotas vexatórias e Abel Braga era de seleção e Enderson estava demitido, sumariamente. Passados alguns dias percebe-se que os resultados serviram mais ao Grêmio do que ao adversário pelo fato de que caímos na real. Temos um time mediano, longe de ser candidatável no momento a qualquer título de expressão, os salários dizem que estão atrasados, o estádio não é da gente e a tarefa do jovem treinador é construir um time para um futuro que espero não ser tão distante. O craque do time, Luan, foi para o banco pelo fato de que deve estar atrapalhando as sumidades. O Inter, ao contrário, dizem ter elenco para as glórias. Mas, está jogando pouco e Abelão começa a ficar azedo e a torcida também. Tem elenco caro, o velho Dida não é confiável, nem Fabrício, joga com um volante e é extremamente dependente do argentino. O Grêmio está ciente das limitações e ao Inter cabe uma reflexão porque mesmo com estádio novo, até onde eu saiba o portão oito não foi demolido.
Diante da tragédia da Boite Kiss era imperativo que os culpados fossem para a cadeia. Mas, só esses? Parece-me haver autoridades municipais e estaduais, civis e militares com responsabilidades que estão sendo apuradas. Mas, certamente não foram somente os músicos e os proprietários do local os que facilitaram o desiderato. Mas, a gente tem pressa em exercer sentenças e até continuamos linchando inocentes com o fito de auto-exorcizarmos nossas culpas.
Esse cronista que, provavelmente também vai escorregar, entende que no homicídio do garoto Bernardo há dois crimes e múltiplos réus. Há o homicídio e sobre o qual já há três pessoas praticamente condenadas e há a omissão que é da sociedade, essa é a nossa parte. O garoto pediu socorro aos professores, vizinhos, conselho tutelar, autoridades judiciais e a resposta foi o silêncio ou a resiliência, para citar a palavra da moda, a que melhor define o espírito atual do povo brasileiro diante de tudo o que é divulgado. Agora cabe homenagens estéreis aquele que deveríamos ter protegido. Bernardo foi assassinado: três presos e três condenações. Pronto, exorcizados viramos a página até vir outro Bernardo e mais dois culpados na cadeia. Depois, outro. A omissão da sociedade, não somente de Três Passos, no entanto, permanece pelo fato de termos incutido a banalização do mal e do crime. A sociedade precisa acordar para ouvir os gritos das crianças e dos velhos.
Também vou escorregar com a conclusão pseudo-espírita a que cheguei. A única pessoa que ouviu Bernardo foi sua falecida mãe. E ela veio buscá-lo porque onde ele está com sua mãe, onde quer que seja, deve ser um lugar melhor do que a nossa sociedade ofereceu a ele.