Ela nasceu Altamira Rodrigues Sobral, mas em razão das circunstâncias impostas pelos longos anos vividos na clandestinidade tornou-se Maria do Carmo Ribeiro, nome que carrega até hoje. Aos 83 anos, a viúva de Luiz Carlos Prestes, o ‘Cavaleiro da Esperança’, está no Rio Grande do Sul, acompanhada de três, dos seus sete filhos, para divulgar os 90 anos da Coluna Prestes. Na quinta-feira foi a vez de Passo Fundo receber a caravana. Maria e o filho Luiz Carlos Ribeiro Prestes participaram de um debate sobre o tema na Universidade de Passo Fundo. O roteiro da família pelo estado inclui ainda outros municípios, inclusive, Santo Ângelo, de onde o grupo formado por militares, liderado por Prestes, partiu em 1925 para cruzar o interior do Brasil durante dois anos e meio, denunciando as mazelas da República Velha. Maria também aproveita a vinda ao Sul para divulgar o livro Meu Companheiro – 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes – Escrito em português e espanhol, a obra chega a sua terceira edição.
Na biografia de 285 páginas, a autora faz um apanhado desde sua infância, em Recife, quando iniciou na militância aos 10 anos, influenciada pelo pai comunista, e posteriormente foca a narrativa nas quatro décadas vividas ao lado do ‘Cavaleiro Solitário’. Antes da participação do debate, na quinta à noite, Maria recebeu a reportagem no hotel onde estava hospedada.
Entrevista
ON – Como foi para uma jovem assumir a responsabilidade de zelar pela segurança de Luiz Carlos Prestes?
Maria Prestes – Eu tinha 22 anos, ele 54, fui designada pelo partido comunista para fazer a segurança dele em uma casa em São Paulo. No primeiro encontro fiquei decepcionada com a figura. Magrinho, pequeno, usando um chapéu. Através das histórias contadas pelo meu pai, imaginava um homem forte e alto, ao lado da Olga Benário. Nesta casa vivemos durante 10 anos na mais absoluta clandestinidade. Ele não podia chegar nem perto da janela para não ser visto pelos vizinhos. Dessa convivência nasceram sete filhos, 25 netos e 13 bisnetos.
ON - Este longo período na clandestinidade foi o mais difícil enfrentado por vocês
Maria Prestes - Foi muito difícil. Se a gente cismava ou percebia que a casa estava sendo observada, tínhamos que sair só com a roupa do corpo. Algumas delas foram invadidas pela polícia, colocavam aparelhos na vizinhança para vigiar quem entrava e saía. Seguiam as crianças na escola. Era uma situação insustentável. Tínhamos apenas a ajuda de companheiros do partido. Dentro de casa levávamos uma vida normal. Ele gostava de trabalhar na terra em um pequeno quintal, me ajudava nas tarefas de casa, fazia bolos, tortas, e sabia descascar um abacaxi como ninguém. Também tinha uma cultura impressionante. Me dava aula de português, história, me ensinou a ler os grandes clássicos.