O Fronteira de Pensamentos trouxe ao Brasil o pensador americano Michael Sandel que desenvolveu os grandes temas comportamentais contemporâneos. Seria o indivíduo capaz de se auto-deliberar ou necessita de freios ou ajustes? Seria peremptoriamente indispensável que seus caminhos sejam dirigidos e vigiados através de um contrato, tipo o Contrato social de Rousseau? O desejo individual deveria se sobrepor à sociedade ou não? O mercado, ou os valores comerciais devem conduzir nossas condutas?
Estamos vivendo no nosso país o enfrentamento dos ímpetos pessoais, muitas vezes descontrolados, que pode afagar ou estrangular. A mesma mão que balança o berço pode também causar desgraças. O indivíduo, apesar de sua evolução extraordinária nos últimos cem mil anos, ainda guarda no seu interior uma besta, um animal selvagem que pode, a qualquer momento, irromper em atitudes primitivas. A antropologia considera o desenvolvimento da laringe como o grande diferencial entre as raças que habitam nosso planeta. A partir do ato de falar e de estabelecer rede de comunicação nos diferenciamos dos demais. Há quem afirme que o ponto de impacto foi o desenvolvimento dos hemisférios cerebrais e que a partir daí controlamos nossos sistemas primitivos. No entanto, apesar de tais progressos, muitos de nós permanecemos os mesmos ogros seculares. A gente sai da casinha e se comporta como se bêbados ou drogados estivéssemos. Se não pactuássemos limites viveríamos como se habitássemos a cada da Tia Carmen, digo (erro falho) a casa da mãe Joana.
Se a sociedade, então, assume os caminhos que os indivíduos devem seguir é de se perguntar o que é exatamente a sociedade do nosso país. A sociedade seria os políticos, os artistas, os jogadores de futebol, os religiosos, os homens públicos, os estudantes, os trabalhadores, os vândalos? Ou tudo junto, misturado? Sociedade deveria ser a relação harmoniosa dos cidadãos em busca dos mesmos interesses. Os nossos interesses são aqueles estampados nas notícias de jornal, ou somos a eterna massa de manobra, moldável ao espúrio?
A gente critica os norte-americanos, mas o modelo deles sobrepõe o coletivo sobre o indivíduo. Aqui, a gente quer usar o jeitinho, a malemolência – sabes com quem estás falando? Lá, o uso corriqueiro é – quem tu pensas que és?
Não, não queria morar lá, aqui é meu país. Só queria que a gente não precisasse ser marionetado para parecer adequado a viver com nossos semelhantes. Mas, a idéia é a falência individual. Como contraveneno há de haver uma sociedade forte. Mas, onde onde ela habita? Certamente não é no sul do equador.