OPINIÃO

O guri e o poronguinho

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Tive o privilégio de ser convidado para assinar o prefácio do novo livro de Francisco Mello Garcia (Xiko Garcia): O guri e o poronguinho. Uma obra especial, supostamente dirigida ao público infantil, editada pela Aldeia Sul Editora, com projeto gráfico assinado por Marina de Campos e ilustrações por Leandro Dóro, que, muito breve, estará à disposição dos leitores.

Entre todas as credenciais usadas pelos editores para dizer quem é Francisco Mello Garcia – compositor, músico, escritor, cantor, poeta, bacharel em ciências contábeis, corretor de imóveis e membro da Academia Passo-Fundense de Letras-, no meu entendimento, uma só era mais que suficiente para justificar o livro: POETA. Sim, Xiko Garcia é, indubitavelmente, POETA, pois honra a melhor tradição da poesia que é, na relação poeta/escritor e leitor, transformar versos em emoção. Na poesia emoção é tudo. Havendo emoção é o suficiente para o que, até então, não passava de um mero poema vire poesia. E emoção é o que não falta nos três temas que compõem esse livro: O guri e o poronguinho (que dá título à obra), Retrato rimado e A canga que sobrou.

Francisco Mello Garcia, em “O guri e o poronguinho”, faz uma espécie de viagem de regresso à infância, justificando a crença que de todos os momentos vividos por um homem, ainda que esse tenha tido uma vida longa, alguns poucos são suficientes para marcar indelevelmente o seu destino. E são dessa natureza os momentos vividos pelo guri Francisco Mello Garcia, na Colônia Miranda, interior do atual município de Coxilha, que o POETA adulto Francisco Mello Garcia se valeu para compor os versos que dão forma ao livro em pauta.

O POETA Francisco Mello Garcia tem um jeito todo próprio de construir seus versos. Um jeito que se presta a ele e, muito provavelmente, a mais ninguém. Pode até não ser o poeta do verso perfeito. Não se trata, diria um crítico com senso literário mais apurado que o escriba, de nenhum ourives dos versos alexandrinos. Mas, que importa a teoria da versificação, quando nos deparamos com um POETA que prima por ser fiel com ele mesmo? O que é relevante, numa hora dessas, não é a perfeição dos versos, mas o que está detrás dos versos. E, nos poemas do POETA Francisco Mello Garcia há mais, muito mais do que meros significados literais de palavras agrupadas em versos. Há mensagens que tomam a forma de emoção ao atingirem a sensibilidade do leitor.

São muitos os poetas pelo mundo afora. Cada um desses, independentemente de qualquer filiação a escolas literárias, tem a sua própria teoria para escrever poemas. É por isso que existem muitos poetas e pouca POESIA, pois um pretenso poeta escreve não o que quer, mas sim o que pode. Francisco Mello Garcia usa as suas próprias vivências, quer sejam derivadas de acontecimentos do passado ou do momento presente, e a percepção aguçada do mundo como teoria e inspiração para tecer seus versos. E isso o torna único e inimitável ao dar forma aos sentimentos por intermédio de palavras.

Dizer que Francisco Mello Garcia escreve para velhos saudosistas (O tempo, As primaveras de nossa praça e Recado ao falecido pai, apenas como exemplos) é uma blasfêmia. Para desfrutar Xiko Garcia não precisamos ser velhos. Precisamos é de sensibilidade e de algo cada vez mais raro nos tempos atuais: a capacidade de nos emocionarmos. Torço para que você, prezado leitor, ainda não tenha perdido a capacidade de se emocionar e, com isso, possa desfrutar plenamente dos poemas do Xiko Garcia.

Em “O guri e o poronguinho” Francisco Mello Garcia faz a viagem de volta a uma Colônia Miranda que não existe mais, e que, metaforicamente, poderia ser à infância de cada um de nós. Por isso proponho: embarquemos com ele. O fantasma do poronguinho tem acompanhado Francisco Mello Garcia pela vida afora. Oxalá o POETA encontre, na maturidade dos seus quase 70 janeiros, aquilo que tem buscado desde criança, como deixou transparecer no livro: nada mais que FELICIDADE!

CELESTINO MENEGHINI – O escriba agradece as gentis palavras do jornalista Celestino Meneghini, publicadas neste espaço, na edição de ontem (5) de O NACIONAL, referentes às habilidades de escritor e comunicador científico do colunista. Acrescentaria, para os incautos, apenas: o Meneghini, as vezes, é exagerado, demasiado exagerado! Abraços Meneghini.

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