Na última segunda-feira na homenagem que as academias de Letras, Medicina e de Contabilistas do RS, aliadas a diversas autoridades, imprensa e amigos prestaram ao múltiplo Padre Alcides Guareschi, constatamos, ainda uma vez, que os momentos lindos permanecem mesmo que a presença física do autor deles não esteja manifestada. Por que isso ocorre? Porque a obra muitas vezes, transcende a figura de seu idealizador. Porém, não é o caso de Padre Alcides já que amplamente demonstrado suas obras seguiram simplesmente a dimensão da grande figura que ele representou. Suas realizações foram uma extensão automática de sua compreensão à cerca da nobre missão de servir aos outros e à comunidade. Suas obras tão amplas foram e são o que transformaram a Chicago dos Pampas num polo educativo e daí, ao polo de serviços diversos. Suas ideias visionárias prospectaram um solo fértil de edificações educacionais na Universidade, na Imprensa, na Secretaria de Saúde, entre tantas. Meu encantamento, no entanto, era pela sua oratória, pela clareza das ponderações, pela admirável convicção religiosa e pelo magnetismo pessoal que arrastou os que felizes vivenciaram partilhar de seu cotidiano.
Aí então surge o magnânimo, a exceção inspiradora que propõe a possibilidade de sermos regras, ao invés de sermos exceções. Aí, surge a liderança avassaladora, o guia que arrasta pelo que pensa, pelo que faz e pelo que é.
Padre Alcides poderia ser um brilhante religioso e o foi; poderia ter sido um extraordinário administrador e o foi; poderia ter sido um impactante educador e o foi; poderia ter sido uma invulgar pessoa e o foi. Padre Alcides poderia ser tudo isso, mas preferiu ser isso tudo e num ritmo alucinante e ungido pela humildade.
Já havia manifestado pesar quando do passamento de Alcides, no dia 06 de maio, dia do aniversário de meu pai. Coincidentemente, Alcides aportou em Passo Fundo em 1957, ano em que nasci e era reitor da Universidade quando me formei.
Gilgamesh, primeiro herói mitológico, rei-deus sumério, queria conquistar a imortalidade. Passou a vida tentando conquistá-la e só percebeu que ela reside quando seus pensamentos e obras têm continuidade através de seus filhos e de seguidores. Muitos de nós plantam frutos que não serão colhidos pelos sucessores, talvez por falhas da gente, ou dos outros ou pelas circunstâncias alheias, ao que chamamos aleatório.
Essa palavra, aleatório, não deve ter sido parte da vida de Alcides Guareschi. Tudo o que fez teve continuidade e foi impactante para nós e para a nossa comunidade. Hora de descansar. Será que Padre Alcides conhecia a palavra descansar? Por certo, entendia que havia ainda muito a ser feito. Nossa verdadeira homenagem é dar continuidade ao iniciado. Somente assim poderemos dizer que somos dignos de ser considerados amigos do Padre Alcides.