Quando desembarcou no Brasil em 2 de agosto do ano passado, a tímida Eleonora Peruch, intercambista italiana então com 17 anos, procurava por uma nova experiência. Em princípio, o foco era alguma cidade de São Paulo ou Rio de Janeiro, mas o destino a trouxe a Passo Fundo. Logo nos primeiros dias por aqui foi recebida com atenção especial na escola e também pelos meios de comunicação, concedendo diversas entrevistas, o que a fez perceber um modo de vida diferente entre os brasileiros, uma curiosidade maior pelas pessoas que vem de fora e uma proximidade entre as pessoas que ela não conhecia.
Agora, de volta à Itália, para onde embarcou no dia 5 de junho para retornar à cidade onde mora com os pais, Valvasone, ela avalia como foi o período no Brasil. Uma experiência, definida por ela, como “calor humano”, algo bastante característico do brasileiro. “Existem alguns acontecimentos que acho divertidos e que desde o começo me mostraram um lado da cultura brasileira. Nos primeiros tempos no Brasil fui ‘atacada’ pela mídia: rádios, jornais, todos queriam saber quem eu era, por que eu estava em Passo Fundo, por que por que por que? Bom, recém tinha chegado e já estava dando entrevistas em uma língua que ainda não conhecia, sobre assuntos que as vezes nem conseguia explicar direito... Mas isso fez com que eu me abrisse desde o primeiro momento, tentasse expressar o que eu sentia mas, mais que tudo, me transmitiu uma tal positividade, que só os brasileiros com o carinho e o interesse pela novidade típico deles conseguem passar; um tal calor humano do qual vou sentir falta eternamente”.
Essa proximidade, esse calor humano foi o que Eleonora entende como a principal diferença cultural entre Brasil e Itália: “é uma relação mais viva, tem mais carinho, mais abraços, mais contato físico mesmo, mais proximidade”. De acordo com ela, na Itália, diferentemente do Brasil, é mantida uma distância maior entre os grupos, mesmo entre pais e filhos, como com os professores. “O que eu quero dizer é que tem atitudes que eu tomava no Brasil que no mesmo contexto na Itália, nunca tomaria; acredito que não seja uma questão de respeito, mas é o jeitinho brasileiro mesmo que tanto gosto; só posso agradecer que seja assim, porque isso foi fundamental para a minha adaptação”, avalia.
O mesmo sentimento veio na relação na escola, tanto com os colegas como com os professores. “Achei isso bastante interessante. Todos queriam saber sobre a minha chegada, estadia e a experiência toda. O chegar na escola e ser cumprimentada por todos, os cuidados, a preocupação dos professores pelo meu bem estar, tudo isso me surpreendeu, nunca imaginei que ia encontrar tanto carinho. Esses são sentimentos que vão ficar marcados no meu coração por a vida toda”, alegra-se.
As dificuldades
Como a própria Eleonora define, intercâmbio sugere uma experiência que envolvendo outra cultura, pessoas com hábitos diferentes. “Acredito que a maior dificuldade que encontei durante esse tempo de permanência no Brasil foi a tentativa de construção de um equilíbrio entre a cultura brasileira e a minha. Esse equilíbrio é fundamental, é a porta que te permite enfrentar qualquer dificuldade”, salienta a jovem.
Para ela, foi encontrando este equilíbrio que as dificuldades se minimizaram. “Cada um de nós, inevitavelmente, nascendo em um tal país com sua cultura é influenciado por ela e cria os seus princípios. É maravilhoso ter a possibilidade de se por em comparação, mas nada fácil. Você descobre que mesmo sendo duas culturas parecidas, a adaptação requer bastante tempo, mas depois de ter conseguido me integrar, depois de ter entendido os valores e os jeitos da nova cultura tudo ficou mais fácil, automático e agradável; começa uma nova vida, como se nascesse outra vez. Intercâmbio é isso mesmo: renascer à vida nova”, brinca.