OPINIÃO

Rock e Cinema

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Rock combina com audiovisual. Não foi o cinema ou a TV que ajudaram a consolidar o rock, ele não precisou de nenhum tipo de ajuda para se tornar parte essencial da história cultural da humanidade da metade do século passado em diante, mas o audiovisual casou bem demais com ele. Basta lembrar os áureos tempos da MTV – em um tempo em que o som alto nos carros era de rock, e não de outras “coisas” que se parecem com tudo menos música. Quando não havia Youtube, downloads fáceis e centrais de entretenimento digital numa tela poucas polegadas em qualquer celular, o lançamento de clipes novos de algumas bandas era um acontecimento. A MTV era um templo adorado. Alguns clipes, ligados a lançamentos dos cinemas, tornavam-se sucessos tão grandes quanto muitos filmes. Por exemplo, o frenesi em torno do lançamento do clipe de “YouCouldbe Mine”, do GunsN’Roses, ajudou a alavancar ainda mais o hype em cima de “O Exterminador do Futuro 2”, de James Cameron.

Não deveria ser difícil, então, elencar algumas aproximações entre o rock e o cinema ao longo dessas cerca de 70 anos. A tarefa acabou sendo árdua, no entanto, mais pelo grande número de títulos.

Depende muito, também, da geração. Quem for da geração dos anos 70 e 80, vai lembrar, nesse caso, de Tommy,a opera-rock do The Who, dirigida por Ken Russell, ou das incursões dos Beatles no cinema, em YellowSubmarine e no (para mim) bem melhor Os Reis do Iê-Iê-Iê (talvez porque o quarteto em carne e osso seja melhor sempre). Eu não esqueço, mesmo, de “The Wall”, onde o Pink Floyd construiu visualmente um universo metafórico poderoso até hoje (e provavelmente continuará sendo pelos próximos 50 anos).

Para os fãs de Quase Famosos (e eu sou um deles), a saga do aspirante a jornalista William Miller acompanhando a fictícia banda Stillwatter em turnê pelos Estados Unidos, há um similar menos “comportado” em 1984, “ThisisSpinalTap”, que também acompanha uma banda fictícia em turnê pela América. Mas Quase Famosos foi feita numa época onde a nostalgia fala mais alto que a rebeldia – pouco importa a qualidade do que a Stillwater toca, e mais a ligação sentimental que o filme estabelece com o mundo do rock, seus bastidores e quem verdadeiramente faz sua magia: os fãs do rock.

Se a ideia é falar de fãs, nada melhor para o número cada vez maior de amantes do vinil do que ter na estante, guardado, a adaptação para os cinemas do livro de Nick Hornby, “Alta Fidelidade”. Qual desses amantes do rock não gostaria de trabalhar, um dia, numa loja como aquela em que Rob Gordon (John Cusack) trabalha? E quem, afinal, não gosta de fazer – no rock ou no cinema – suas “listinhas” de melhores de todos os tempos?

O cinema já viu o cenário grunge de Seattle, em efervescência nos anos 90, em “Vida de Solteiro”, e a febre dos efêmeros grupos de um só sucesso dos anos 60, em “The Wonders”. Já acompanhou ascensão e queda de ídolos, como em “The Doors”, e mesmo a história de ídolos pouco conhecidos, como em “Backbeat – Os Cinco Rapazes de Liverpool”, um dos melhores do cinema até hoje a falar sobre os Beatles. Já viu até o rock salvar filmes, como em “Escola do Rock”, onde o melhor do filme é mesmo as sequências em que Jack Black homenageia clássicos do rock, principalmente do AC-DC (e o clássico organograma de épocas e estilos de rock desenhado no quadro é a melhor coisa do filme). A MTV pode ter acabado, sub-cantores podem querer até destruir a essência (como a pavorosa “adaptação” de “AnotherBrick in the Wall” para o sertanejo universitário) mas a grande riqueza do rock é que os clássicos, passados 70, 50 ou 30 anos, permanecem influentes e sempre atuais. Inclusive no cinema...

Gostou? Compartilhe