OPINIÃO

Um golaço de Neymar

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Não entendo de futebol. Meu pai não era torcedor. Dele herdei o gosto de caminhar pela plantação, limpar potreiros durante o jogo. Como não tem plantação na cidade, nem potreiros, cuido do jardim,  caminho pelas leituras, e cato notícias na internet.  

   Um dia precisei escrever sobre futebol na escola. Fui entrevistar meu pai. Futebol não tem sentido, me disse. Todos correm atrás da bola, mas, quando conseguem, chutam para outro. Tá pai, mas e o gol? Bem. O gol é a parte melhor do futebol. Quando a bola entra dentro do arco todo mundo grita e se abraça. Só que isso acontece muito pouco durante uma partida. Não sei por que eles colocam goleiro para dificultar. Assim o melhor momento fica muito raro.

Não tenho visto os jogos da Copa. Só leio sobre Neymar. Galvão Bueno, então, fala dele mais que a Bruna Marquezini. Escuto Galvão pelos vizinhos.  Tudo é golaço do Neymar. Golaço contra o México, golaços contra os Camarões, quem sabe neste sábado mais um golaço contra o Chile. E gol de outros  sempre tem o toque de Neymar.

Não tenho competência para avaliar qual o melhor gol de Neymar dentro do campo, nos jogos da Copa.

Fora do campo já sei. Foi com dois meninos refugiados da guerra da Síria. Juman e Limar.  Cabelos moicanos como o ídolo, moradores de Brasília, fizeram chegar ao outro menino um pedido. Queriam vê-lo mandar uma mensagem de paz para a Síria, em guerra desde 2011.  Em relatório da  Human Rights Watch (HRW) os grupos armados são acusados de recrutar crianças para a linha de frente, depois de mortos seus pais,  suas escolas bombardeadas e o seu ambiente destruído. Juman e Limar fugiram para o Brasil com seus pais. Salvaram-se.

Entende-se o pedido de Juman e Limar, de 10 e 12 anos, para outro menino quase da sua idade. Os garotos sírios não pediram uma foto, nem uma camiseta autografada. Como inocentes pediram por inocentes. Se Neymar faz coisas impossíveis dentro do campo, pode fazer  milagres também na Síria, devem ter pensado em sua ingenuidade. Se Neymar vence os adversários e traz alegria com um gol,  poderia fazer acabar a guerra, se desejasse.

Neymar soube do desejo dos meninos sírios, e gravou no celular uma mensagem. Você encontra o vídeo procurando Google, está em vários sites.

Não se pode esperar do jovem jogador a mesma destreza com as palavras que tem com a bola. Jogador de futebol não precisa de oratória.  Conseguiu acolherar umas palavras numa frase simples.  Foi o suficiente. Os meninos receberam o vídeo de poucos segundos e ficaram maravilhados. Parecem ter esquecidos os horrores  das bombas em seu quintal.

Voltei aos jornais. Poucos repicaram o golaço de Neymar pela paz. Leio que a guerra na Síria não acabou, que os rebeldes continuam utilizando crianças na linha de frente. Espero que o jogador não se importe com isso, que não se sinta abalado, que continue fazendo gol para o Brasil ter alegria com o futebol.

Mesmo ignorante futebolístico, tenho certeza do golaço de Neymar fora de campo. Juman e Limar crescerão, talvez retornem para seu país.  Ensinarão a seus filhos  a evitar a guerra. A Síria poderá ser uma nação de paz e alegria como o Brasil, com ou sem um gol de Neymar.

Para mim, que não sou Galvão Bueno,  o gol mais bonito de Neymar, que mudará a história,  foi  naquele vídeo mixuruca gravado para dois meninos sírios, refugiados de guerra. Me desculpem se estou errado. De Copa, de futebol não entendo. Só entendo de mundo, de paz, de sonho...

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