A escassez de água é um problema grave que afeta várias regiões do Brasil. No Rio Grande do Sul, a seca de 2012 foi considerada a mais intensa dos últimos 50 anos, o que fez com que mais de 80 municípios da região Norte do estado decretassem situação de emergência devido à falta de água. Pensando nessa questão, o professor e pesquisador Vandré Barbosa Brião, vinculado ao curso de Engenharia de Alimentos da UPF, desenvolveu a pesquisa “Dessalinização por osmose inversa das águas do Aquífero Guarani para uso como água potável em períodos de estiagem”, com o intuito de encontrar alternativas para a escassez da água em épocas de estiagem. O Aquífero Guarani é um agrupamento de unidades hidroestratigráficas, isto é, reúne uma grande reserva de água subterrânea. Localizado na região Centro-leste da América do Sul, ocupa uma área de 1.194.000 km², distribuídos entre territórios de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. No Brasil, a região Sul é a que possui a maior área.
Atividades e resultados
O trabalho, desenvolvido entre 2011 e 2013, também contou com a participação dos professores Marcelo Hemkemeier e Adalberto Pandolfo e de acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental (PPGEng) e das graduações em Engenharia de Alimentos e Engenharia Ambiental. Para ter acesso ao Aquífero Guarani, a equipe encontrou um poço com 960 metros de profundidade na cidade de Tapejara (RS). Dentre as atividades, foi coletada uma quantidade de água para análise técnica. Constatou-se que a amostra era salina, ou seja, imprópria para o consumo, em virtude de possuir sólidos totais dissolvidos, sulfatos e fluoretos em excesso em sua composição. Essas substâncias são consideradas prejudiciais à saúde e fazem a água ter um gosto indesejado. Após a verificação, o grupo realizou a remoção desses elementos por meio de um processo chamado osmose inversa, que permite a retenção dos sais da água. O resultado do processo mostrou que, depois do procedimento, foi possível recuperar 93% da água bombeada, tornando-a purificada.
Além do estudo técnico, os pesquisadores se interessaram em desenvolver uma análise econômica para verificar a viabilidade da captação da água no Aquífero. Com o intuito de realizar uma estimativa de investimentos e custos, a equipe projetou uma estação de tratamento de água por osmose inversa para abastecer uma população de 10 mil habitantes. A estação operaria somente em casos de emergência, semelhante às usinas termoelétricas. A atividade mostrou que as instalações da estação projetada necessitariam de uma área física de 200 m², com investimentos de R$ 2,23 milhões e custo da água tratada de R$ 0,67/m³. Segundo Brião, o valor da água produzida é considerado razoável, semelhante aos custos de tratamentos já feitos em outros países, embora mais caro que o tratamento de águas superficiais. Os resultados obtidos demonstraram que a dessalinização da água do Aquífero por osmose inversa seria uma boa alternativa para o abastecimento de água para a população, uma vez que as secas têm sido mais frequentes na região.
Ação reconhecida
O projeto desenvolvido por pesquisadores da área de Engenharia de Alimentos da UPF já está obtendo reconhecimento. Em 2013, a iniciativa proporcionou a publicação de trabalhos em congressos, como a XXIII Mostra de Iniciação Científica (MIC), o 25º Congresso Regional de Iniciação Científica e Tecnológica em Engenharia e o VIII Simpósio de Alimentos para a Região Sul. Na MIC, o trabalho recebeu o prêmio Inovação Pesquisa Aplicada. Também está sendo produzido um artigo para ser publicado na revista Desalination, especializada em conteúdos sobre dessalinização. Para Brião, o fato de não existir muitos estudos sobre o Aquífero Guarani, nesta área de dessalinização, enfatiza o compromisso da UPF com a pesquisa. “O projeto expõe ainda mais a importância da Universidade em relação à preocupação em encontrar possíveis soluções para os problemas da região”, comenta. O trabalho recebeu financiamento da Fapergs e apoio dos Comitês de Gerenciamento das Bacias Hidrográficas do Rio Passo Fundo e do Alto Jacuí, e do Conselho de Desenvolvimento da Região da Produção.