OPINIÃO

Destruidores em cartaz

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Adeptos do apocalipse, alegrem-se, a destruição está em dose dupla nos cinemas. Temos um monstro gigantesco que nos anos 50 se tornou símbolo da destruição nuclear, nascido dos testes nucleares no Atol de Bikini, nos anos 50 – na versão 2014, os testes foram feitos para destruí-lo, o que cria uma relação de causa e efeito típica de no­vas interpretações – que percorre o mundo atrás de dois monstrengos gigantescos porque quer demarcar seu território, o popular “fazer xixi no terreno, que ele é meu”. Só que, no caminho, destrói meio mundo. As perdas humanas, nesse tipo de filme, são jogadas para escanteio, diminuídas, fazem lembrar Stálin e sua famosa frase sobre mortes que significam tragédias ou estatísticas, mas esse é o cinema catástrofe. A diferença desse tipo de cinema nos anos 70 e algumas refilmagens recentes de hoje é que, lá atrás, nós acompanhávamos vários persona­gens e íamos perdendo eles ao longo do caminho. Hoje, a destruição é tão impessoal que nem sabemos quem morreu, porque são números, pontinhos pretos na tela criada em CGI. Ou alguém não lembra que, no apocalíptico “2012”, de Rolland Emmerich, mais de meio mundo morreu e o filme quer que a plateia roa as unhas pelo destino de um ca­chorrinho que precisa correr para entrar em uma das arcas gigantescas que representam a salvação para o mundo? Mas o “Godzilla” de 2014 é ligeiramente melhor do que aquele feito pelo mesmo Emmerich de “2012”, no hoje distante 1998. Lá, Godzilla era um dinossauro, gerava filhotes que mais pareciam os velociraptors de “Jurassic Park” e o que deveria ser drama para alguns personagens ganhou uma abordagem tragicômica. Foi um filme que não funcionou.

Agora, em 2014, Godzilla ganha uma carga dramática que ex­clui o humor, voluntário ou involuntário, e tenta nos ligar ao drama dos personagens humanos que conduzem a trama. Conseguiria, se a história do protagonista não fosse tão rasa e se os melhores perso­nagens abandonam a narrativa antes da hora. Impressionante como um filme que reúna tantos milhões de dólares consiga se por a perder por uma simples escolha de elenco errada. E, de certa forma, Godzilla é quase um coadjuvante de luxo, um background, construído numa narrativa que procura diminuir os custos com efeitos visuais am­bientando muitas cenas durante a noite. Guillermo DelToro também ambientou cenas assim à noite em seu recente “Pacific Rim”, mas a diferença é que a ação do filme de DelToro é limpa, perceptível, assim como os efeitos. É uma opção dramática. Em Godzilla, a ação noturna parece, às vezes, feita para reduzir gastos.

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A série de filmes mais ruins e milionária do cinema também está em cartaz com o quarto filme da franquia “Transformers”. Aqui, Michael Bay fez o que a CBF quer fazer com a seleção brasileira: mu­dar não mudando. Como os filmes deram sinais de cansaço e foram comprometedores em termos artísticos – principalmente o segundo filme, um fiasco completo – ele decidiu mudar o elenco. E na lógica de que “mais é melhor”, incorporou os Dinobots, juntando o útil ao agra­dável para a molecada: elas adoram os transformers, imagine então trazer os personagens que misturam eles a dinossauros? Se as piadas idiotas do roteiro, os diálogos histéricos que pensam ser agradáveis, a montagem alucinada de planos de 0,4 segundos de duração, a câme­ra lenta circundando personagens de forma épica em contraplongée (debaixo para cima) e a bandeira americana tremulando ao fundo em alguma(s) cena(s) continua(m), eu não sei, mas o certo é que o filme vai juntar um bocado (modo de dizer, claro) de bilheteria, e com os mi­lhões arrecadados garantir um quinto filme. E eu, provavelmente, vou ver ele como vi os outros, apenas para poder bradar o quanto Michael Bay é péssimo diretor, o quanto seu cinema não obedece nenhum tipo de justificativa para suas escolhas de enquadramento e movimento e o quanto o diretor resolveu esconder a falta de criatividade permane­cendo eternamente em uma franquia, para não ter que ser castigado pelo fracasso de alguma nova criação. Enfim, isso é Transformers 4 – A Extincão. (será a extinção da série?)

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Apenas para constar, Godzilla e Transformers 4 estão em car­taz... dublados (ah, tem uma cópia dos robozões legendada também, o que já é grande coisa aos adultos que resolvam ver isso)

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