Rossana Braghini, psicanalista, membro fundador do Espaço de Psicanálise Freudiano-Lacaniano de Passo Fundo
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Ao longo de nossa existência somos surpreendidos pelo inesperado da vida com mortes, rupturas amorosas, doenças graves e outros reveses que nos fazem sofrer muito. Precisamos ir a um analista por isso? Não sei.
O sofrimento é inerente ao traumático destas situações e uma metabolização através da palavra é sempre necessária. Ao buscarmos um analista, acredito, se ganha tempo na elaboração, porque existe uma pessoa, entre outras coisas, com disponibilidade para nos escutar sem precisar falar de si. Em que outro lugar isto acontece?
Agora, em outros momentos, embora até saibamos como estamos sofrendo, nos sentimos profundamente impotentes para reverter a situação e com isto erradicar a insatisfação crônica de algum aspecto de nossa vida. Rezamos para que a situação mude e nos colocamos à espera de um milagre que nos retire da miséria cotidiana.
E o milagre começa a acontecer….
Mas começa a acontecer no exato momento que invertemos a direção da questão. Ao invés de nos perguntarmos – “por que a vida é tão injusta comigo e me presenteia com esta infelicidade?”, fazemos outra pergunta de resultados mais rápidos: Como eu participo na minha infelicidade?
Neste momento é importante a presença de um psicanalista que nos auxilie a decodificar o que, até o momento presente, fez a manutenção de nosso sofrimento para melhor cortá-lo no ponto mais íntimo e singular de cada um.
Mas o que é o ponto mais íntimo e singular de cada um? Em primeiro lugar é uma redundância para dizer que ninguém tem um sintoma igual ao de outra pessoa, com a mesma composição. Em segundo lugar, o sofrimento é o aspecto do sintoma que comumente tem visibilidade, até para nós mesmos. Isso porque fomos ensinados a pensar que se a pessoa está sofrendo, por contingência ela é só vítima e não cúmplice também. Ela é boa. O que a psicanálise faz é ajudar a pessoa a revelar para si mesma, a sua parte cúmplice na fixidez de seu sofrimento, do seu sintoma.
Por exemplo, posso me queixar que meu casamento é ruim, que sofro com a relação, mas não enxergo que, ainda que minha dor seja absolutamente genuína, tenho uma parcela de cumplicidade seja na forma de comodismo, vergonha, gozo ou medo. Vencido isto… há liberdade para criar a vida desejada.