Vivemos um tempo de perdas com as mortes de Rubem Alves, Ariano e Ubaldo Ribeiro. São amigos que nos confortam e remetem à magia de quem tem a nobreza atitude da leitura. São imortais, assim como também são La Fontaine, José Lins do Rego que me acompanharam no início. Depois vieram Machado de Assis, José de Alencar e Érico Veríssimo. Expandi além território para Guy de Moupassant em Bel-Ami, para Hemingway. Depois, nos mistérios iniciais da filosofia, quedei para Kalil Gibran, para Hermann Hesse. Ainda mais tarde, minha vida se quedou para os livros técnicos da profissão. Alguns de nós escolhem uma profissão, outros são escolhidos pela profissão. Deve ser aquilo que denominamos vocação.
De qualquer maneira ali naquela estante estão muitos dos meus pretensos amigos. Quase todos os dias adentro as suas ideias. Umas são de natureza política, outras de um mundo sustentável, outras são biografias, algumas são histórias. Quase nunca são romances ou estórias, prefiro ainda um mundo real, mesmo que não seja idílico. Observo Juscelino, o peixe vivo e apesar das críticas vejo-o sobre muitos. Observo Jango e sei que foi muito melhor do que dizem por aí. Misturado a isso tudo lá está Rubem Alves e seus doces textos, ali está João Ubaldo e Viva o Povo Brasileiro. De Ariano guardo uma palestra que assisti em Fortaleza há 3 anos. Fantástico e arrebatador ouvir aquele menino-homem, aquela doçura de ser. Passaremos na vida também como todos. Ao ouvi-lo lembrei de Mário Lago, de Adoniram Barbosa, de Carlitos, de Stan Laurel (o magro de o Gordo e o Magro). Todos e mais centenas fizeram de mim o que quiseram fazer. E sigo, humildemente, semanalmente produzindo estratos para tentar fazer pensar, para tentar colocar um pouco de beleza na vida de muitos que enfrentam seus demônios interiores em busca de uma vida que tenha mais sentido.
Outro escritor que admiro demais é Veríssimo, Luís Fernando, que tem um pé, ou os dois em Cruz Alta. É sutil, contundente, delicado, fino, persuasivo. Certa feita, antes de 1994, ao comentar uma vaia que Dunga levou num jogo contra uma seleção fraquinha declarou: o jogo estava fácil e jogo fácil não é para Dunga, ele foi forjado para enfrentar os argentinos em Buenos Aires e alemães em campos barrentos. Quando lhe apresentam facilidades ele não sabe se conduzir, tarefa fácil não é para ele. Mais tarde, num entrevero no Maracanã, seria ovacionado, ele que entrou em campo com um cabelo lembrando Schwarzenegger e fomos campeões mundiais, com ele, o guerreiro erguendo a taça. É tempo de perdas, mas virão os tempos de ganhar.
Olha, Luís Fernando, também gostei de Dunga, como gosto de Tite. Precisamos de homens que não vendam ilusões, é tempo de trabalhar e de tarefas árduas, é tempo de ordenar as coisas, é tempo de construir geração que olhem os argentinos e alemães nos olhos, é tempo da obstinação, da lição de que é possível dar a volta. É tempo de parar de entrar de mãozinha, ou de chorar ao cantar o hino. É tempo de voltar à literatura e ler as fábulas e magia de La Fontaine, depois os sonhos de Gibran e Hermann Hesse, depois Guerra e Paz. Se queres a paz, prepara-te para a guerra (provérbio português).