Nesse dia dos pais não queria parecer piegas escrevendo sobre a saudade de meus velhos, da adulação recíproca que marcava sobejamente a imensa gratidão de termos sido companheiros nessa travessia. Ainda percebo o olhar vigilante de meu velho e na minha cabeça dançam insistentemente as canções que minha velha cantava em falsete para os filhos. Tive a benção de vê-los partir na ordem natural de os pais morrerem antes dos filhos e tenho a obrigação de fazer meus filhos compreenderem o desiderato quando chegar a minha vez. Minha mensagem aos pais é que sejam dignos de merecer as homenagens que os filhos prestam neste dia.
Gosto da CBN e da Rádio Gaúcha e segunda, no Programa Polêmica apresentado brilhantemente por Lauro Quadros, houve a análise da frase de Pelé que o brasileiro não sabe votar. Um dos debatedores disse que o brasileiro sabe votar sim pois, adentra à cabine, digita o número de seu candidato e confirma. Pronto, simples, votou, sabe votar. Outro disse que sabemos votar, mas não sabemos escolher corretamente. Ainda outro manifestou que Pelé falara uma bobagem, algo desmedido porque opiniões sobre política não seriam sua praia.
Na minha opinião o brasileiro sabe votar e sabe escolher. Baseio-me no livro de Alberto Carlos Almeida (Editora Record) intitulado A Cabeça do Brasileiro, onde num teste quantitativo de antropologia de Roberto DaMatta, a Pesquisa Social Brasileira fez 2363 entrevistas no ano de 2002 em 102 municípios país afora abordando pessoas que variavam a cultura entre o analfabetismo até o ensino superior completo. As questões propostas apontaram o que segue: a maioria da população ouvida apóia o jeitinho brasileiro; é hierárquica e vertical não entende a horizontalidade das relações (você sabe com quem está falando ?); é patrimonialista porque entende que cada um cuida do que é seu e o governo cuida do que é público; é fatalista porque crê que existe um destino e ele está nas mãos de Deus; não confia nos amigos; não tem espírito público; defende a lei de Talião (lincha ele); é contra o liberalismo sexual; é a favor de mais intervenção do Estado na economia e é a favor da censura.
O grau de escolaridade interferiu agudamente nas respostas pelo grau de discernimento sobre aquilo que entendemos como direitos sociais que são educação, trabalho, salários justos, saúde e velhice tranquila.Se o que o livro-pesquisa apontou como verdade e corresponde aos pensamentos vigentes nossos representantes nas grandes câmaras realmente nos espelham. Quando se noticia que 70% dos deputados e senadores têm processos na justiça afirmamos que não votamos nestes aí. Mentira, votamos sim, sabemos votar, sabemos escolher, escolhemos exatamente os caras que são iguais a nós conforme demonstrado na obra e que deveria ser de leitura obrigatória para quem tem a pretensão de entender o que vai na cabeça do brasileiro.Digo mais, Pelé pode falar o que quiser e deve ser respeitado porque é cidadão, porque nos deu mais alegrias que uma miríade de engravatados. Ainda mais, quem se acha em plenas condições de fazer prognósticos sobre economia e política sempre acaba dizendo merda. Melhor ouvir Pelé, o rei, entende ?
