Passar a madrugada acordado para cuidar dos filhos, preparar o lanche e arrumá-los para ir à escola, trocar a fralda do bebê e fazer a mamadeira. Essas e outras funções eram rotuladas como obrigações das mães, porém, há algum tempo, se tornaram também a rotina de muitos pais. Já é comum encontrarmos homens que assumem a criação dos filhos e ocupam o papel do pai e também da mãe.
Esse é o caso do economista Paulo Eberhardt, 53 anos. Mesmo solteiro, ele adotou um filho e decidiu criá-lo sozinho. Na verdade, Paulo diz que sozinho nunca esteve, já que sempre contou com o apoio da família. “Foi uma decisão minha ser pai solteiro, pois sempre tive vontade de adotar uma criança. Quando surgiu a oportunidade recebi o apoio da minha mãe, da minha irmã e também de alguns amigos, o que ajudou muito e tornou a experiência mais fácil”, conta. Ele também ressalta a importância da criança conviver com as figuras materna e paterna juntas, mas que encontrou outras maneiras de suprir a necessidade. “No meu caso, toda família deu amparo e auxiliou na educação. Inclusive, os laços com a avó e com a tia se fortaleceram tanto que ele sempre pode contar com mais de uma mãe”, lembra Eberhardt.
Seja por opção ou necessidade, o pai solteiro, viúvo ou divorciado que vive com os filhos é uma família com direitos e deveres assegurados por lei como qualquer outra. Pedro Alberto Tiezerin, 56 anos, é outro exemplo. Quando o filho completou nove anos de idade passou a morar somente com o pai. Tiezerin fala que não teve dificuldades, muito menos arrependimentos: “Pelo contrário, foi muito fácil. Foi uma escolha minha e também dele em ficarmos juntos. Também procurei sempre transmitir a melhor educação possível para ele, independente de ser pai solteiro”. Além disso, o relacionamento com a mãe e com a família materna se manteve mesmo morando apenas com o pai. “Mesmo hoje, já com 19 anos, ele procura sempre manter contato com a família materna”, conta.
As estatísticas mostram que o número de pais que educam os filhos sozinhos está crescendo. A última pesquisa, realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) em 2009, apontou que a porcentagem familiar desses pais aumentou 28% em relação aos últimos dez anos. O crescimento parece pequeno, mas sinaliza uma transformação importante: os homens têm assumido a responsabilidade pela criação das crianças, mesmo quando estão sozinhos. Paulo Di Vicenzi, consultor de marketing, faz parte desse percentual. Os dois filhos moravam com a mãe desde a separação do casal, mas aos oito e dez anos de idade resolveram ficar com pai. “Mesmo que a mãe mantivesse contato, a criação deles foi totalmente minha responsabilidade e desde o início tentei estimular que eles encarassem o mundo com autonomia”. Paulo explica que buscava inserir os filhos no seu ambiente de trabalho e os efeitos vê até hoje: “Desde novos eles tem independência financeira e mesmo procurando não os influenciar, os dois seguiram profissões muito parecidas com profissões que também atuei”, salienta.
As dificuldades
No início, muitos homens se sentem perdidos e desamparados diante desse desafio. Porém, com determinação, amor e carinho, seguem em frente. As dificuldades estão presentes, principalmente quando os filhos ainda são crianças. Nas escolas, por exemplo, muitos professores não conseguem lidar com a situação. “O problema era em datas comemorativas, na hora de fazer um cartão para o dia das mães, por exemplo, a criança acabava ficando confusa. Nem sempre os professores estão preparados e tem sensibilidade para perceber”, conta Eberhardt.
Cuidar do lar, dos filhos e trabalhar também pode ser um problema, mas que é solucionado de várias maneiras. Para o economista a solução foi ter uma babá em casa, além da ajuda da família e amigos. Já para Di Vicenzi, na época publicitário, foi mais fácil. Além disso, para ele, os problemas que teve são comuns também em famílias compostas pelo pai e pela mãe. “Como meu trabalho era no mesmo endereço residencial, foi mais fácil cuidar e dar atenção para eles. É claro que como pai também errei tentando ajudar, mas acredito que todos os pais passam por isso e também precisam aprender com seus erros”.
Os filhos
Os filhos também precisam se adaptar a convivência paterna e hoje mostram como são gratos pela doação dos pais. “Éramos três homens morando em uma casa. Depois de um bom tempo da infância morando somente com meu irmão e minha mãe, foi a vez de eu e Franco termos uma experiência na adolescência morando com nosso pai. E foi muito bacana. Ele sempre foi pai presente mesmo com sua profissão agitada. Nos educou, aconselhou, direcionou e estimulou”, conta Juan Rodrigues, um dos filhos de Di Vicenzi. Juan comenta que sempre foi muito feliz em morar com o pai e que até hoje sente orgulho pelo fato do pai ter administrado sozinho a educação dele e do irmão: “Eu devo muito ao meu pai a pessoa que sou e tudo o que conquistei, aonde cheguei. E sou feliz por ele continuar presente e sempre nos fortalecendo. Eu tenho muito orgulho e amor por ele”, conclui.
No começo é sempre difícil, mas depois, eles contam que não há diferenças e nem problemas em viver apenas com o pai. É o que frisa Cassiano Tiezerin, filho de Pedro Alberto: “Eu acho normal, não consigo ver uma diferença entre quem foi criado só pela mãe ou só pelo pai. Creio que tudo vá do caráter e da responsabilidade de quem cuida. Independente do gênero. E essas duas qualidades meu pai tem de sobra”. Cassiano também agradece a atenção do pai: “Ele sempre me ajudou em tudo que precisei, sempre me deu apoio, liberdade e eu sempre correspondi como filho. Resumindo: é por isso que sinto orgulho do meu pai”.
E a gratidão e o amor também são os maiores sentimentos de Fabio Eberhardt pelo pai Paulo: “Meu pai na minha vida hoje, é minha razão. Como filho, vejo-o como corajoso. Apesar de trabalhar fora, sempre esteve presente. Dedicado, acompanhava os meus estudos de perto e sempre queria resultado. Inspiração de vida que hoje trago para minha atual, de correr atrás dos objetivos e não desistir fácil das coisas. Ele é um paizão e uma mãezona”.
Os tempos mudaram e as famílias acompanharam estas mudanças. Hoje, valoriza-se mais as relações afetivas do que os modelos de família do passado. Os pais, mesmo sozinhos, já mostraram que não existem mais regras. Os filhos, mesmo quando sentem falta da presença materna, são provas de que os pais são capazes de educar, amar e cuidar, como qualquer outro modelo de família.