Maiara Morsch é Arquiteta e Urbanista, Professora Universitária, Geobiologa, Especialista em Sustentabilidade em Edificações, Mestranda em Engenharia e Meio Ambiente da Univerdidade de Passo Fundo
Nós, humanos, somos seres gregários e desenvolvemos uma civilização com cultura, arte e tecnologia. Cerca de 90% da população do Brasil é urbana. Além da infraestrutura e trabalho que a cidade nos proporciona, precisamos conviver com outras pessoas para trocar afetos, conhecimentos e realizar atividades juntos. Essas necessidades datam de longo tempo, como mostram os nossos ancestrais, que vivam em tribos e sabiam que dependiam da natureza para a sobrevivência de amanhã. A conexão com a natureza nas culturas orientais faz parte das civilizações até hoje. Nós precisamos da natureza em nossas vidas todos os dias. Não é opção. É essencial.
Hoje estamos enfrentando uma crise sistêmica sem precedentes desde que nossa espécie se desenvolveu e prosperamos com a exploração de recursos naturais e humanos. Hoje vivemos uma época de transição devido às tantas mudanças que causamos em nosso planeta. Em que momento nos desconectamos da tendência ancestral de cooperar e passamos a ser egoístas, competitivos e desconectados com a natureza? Como o virtual passou a ter mais valor que o real, o verdadeiro, o fundamental?
As crianças do século XXI não podem perder o contato com a rede que mantém a vida no planeta, como vem acontecendo. Todos nos dependemos da biodiversidade, sem ela não temos como sobreviver. Somos uma geração de viciados em telas de todos os tamanhos e não se pode deixar que os desenhos animados com plantas substituam o convívio com a natureza real. Durante mais de 2 bilhões de anos fomos programados para convier com a natureza, está impresso em nosso DNA e não há como escapar, esta desconexão só pode nos causar prejuízos a saúde.
As cidades tem papel fundamental neste momento, pois a urbanização predatória é uma consequência do progresso e do crescimento industrial, elas são as fontes dos maiores impactos que causamos e ao mesmo tempo tem um enorme potencial de mitigar as consequências de nossas ações. As cidades devem oferecer qualidade de vida para que as pessoas sejam saudáveis física, mental e espiritualmente. Isso se faz oferecendo áreas urbanas destinadas às pessoas, com integração cultural e social, onde crianças e adultos convivam em segurança, livres de poluição, acidentes, de ruídos, de estresse, etc. Estamos tão focados em nosso dia-a-dia que passa despercebido pela maioria das pessoas, mas precisamos transformar corações e mentes para trocar a infraestrutura cinza por uma infraestrutura verde. Esta é a nova tendência do século nas cidades dos países desenvolvidos, consequência de uma população que luta por isso, que conhece a sua historia e sabe lutar por aquilo que é essencial.
Sem dúvidas é hora de usar um dos maiores talentos humanos, a habilidade de manipular o ambiente e transformar o meio que se tornou hostil à vida em um mundo que sustenta a vida e cultiva o desenvolvimento pessoal e, principalmente, o desenvolvimento coletivo.