OPINIÃO

Robin

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Vejam vocês, que coisa incrível esse suposto cronista que invade, às vezes, as casas de alguns semanalmente. Sou cirurgião que trabalha com acidentados, sou espírita e agnóstico simultaneamente. Sou fatalista (acredito que esta vida acaba em si mesma e a hora de jogar bem ou cantar bem é agora) e intimista (estou sempre buscando respostas dentro da alma que habita dentro de mim), aprecio a filosofia (a ciência que faz perguntas) e desprezo a fé (aquilo que dá as respostas prontas). Sou humanista, mas somente a ponto de acreditar que o humano é perfectível ou melhorável, que ele pode ser bem melhor do que é. 

Sempre gostei das artes, de todas as formas de manifestação: músicas, poesias, filmes, pinturas, fotografias e até mesmo da beleza do silêncio. Sou eclético e emocionado com as imensas possibilidades humanas em transcender e transformar a dor em beleza.

Por tudo isso é 2014 um ano triste, por todas as perdas que tivemos e já extensamente enumeradas pela imprensa. Robin Williams sempre foi um estereótipo de si mesmo, um ator que se autointerpretava, tipo assim o ator da Grande Família, Pedro Cardoso. Sua intensidade me transparecia que havia algo mais, uma espécie de mensagem subliminar que ele tentava passar. Tive a sorte de assistir somente os bons filmes em que ele atuou. A arte manifestada em todas as formas deve servir para aplacar nossas decepções à cerca do que pode representar a pobreza de nossas existências. Robin partiu entristecido, é uma pena, bem que a gente poderia tê-lo feito sorrir ou sonhar assim como ele fez com a gente, bem que a gente pudesse entender as mensagens cifradas dos gênios.

Veja bem, olhe pela janela, lá fora há um mundo hostil contra o qual você luta. Todos os momentos parecem ser de batalhas pela sobrevivência, pela inserção social, pelo sustento. Mas, há o melhor mundo, aquele que realmente nos interessa que é o da janela para dentro, aquele em que habita as pessoas que realmente amamos e por quais lutamos. Gostaríamos que fosse completamente diferente do mundo de fora da janela. No mundo das nossas casas sonhamos harmonia e paz, nascemos dentro dele e aí morreremos. Temos o direito de ter casa-lar. E para dentro desse mundo trazemos através de muitos meios a arte que há no mundo e nos percebemos muitas vezes como sequelados cerebrais ao chorar em filmes de amor ou em mensagens de superação.

Nós, sessentões, estamos gradativamente nos despedindo dos antecessores, aqueles que deram o verdadeiro sentido de que há um mundo legal, o da janela para dentro. Eles fizeram o possível para que pudéssemos transcender, para que fizéssemos das tragédias, pequenas ou grandes, momentos de arte e beleza. Eles ensinaram o poder do sonho e da magia do amor e da amizade.

Foi também por isso que ao olhar para tranquila face e quem brilhou intensamente, a face Dona Hilda Colvero, que nos deixou essa semana, pedi, em silêncio, que transmitisse a seu marido Wálter, grande amigo de meu pai, meus sentimentos de saudade e de agradecimento por participarem de minha vida e de muitas maneiras trazerem a graça de que o mundo pode ser bem melhor.

* Médico clínico geral e cirurgião

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