É a primeira vez que venho a São Paulo em que não esteja envolvido em compromissos profissionais. Venho para visitar minha filha que estuda Relações Internacionais na FAAP, aqui no Bairro Higienópolis e para o casamento da Fran Lamaison, minha prima emprestada. Gosto de São Paulo tão qual gostava de Renato Russo.
Olho para os céus e vejo o azul que desmente a imagem transmitida sobre os tons de cinza da poluição. Olho para as arborizadas ruas de Santa Cecília e Higienópolis e não identifico Leno, ex- Leno-Lilian, que cantava São Paulo em 1974 que o amor se esconde entre a fumaça e ninguém vê/e pouco a pouco as flores deixam de nascer (Flores Mortas). Caminho mais um pouco pela Avenida Higienópolis e encontro a Rua Rio de Janeiro e ali, veja, mora Jô Soares e mais adiante mora FHC. Será que me receberiam para um bate-papo descontraído sobre o Brasil de há cinquenta anos e o de agora?
São Paulo não me parece uma cidade nervosa, parece-me agitada. Neste bairro judeu que lembra o Bom Fim há de tudo. Muitas bancas de jornais das quais me sirvo, padarias em todas as esquinas, gente passeando com seus cachorros, alguns de todas as idades fazendo jogging. Logo mais abaixo há o Minhocão e minha lembrança encontra Eduardo Araújo em Salve, Salve Brasileiro, canção de 1969-1970, que canta o Brasil inteiro e suas peculiaridades.
As primeiras imagens que recolho desta cidade vêm pelo futebol e os inimigos do Grêmio, principalmente o Palmeiras de Dudu-Ademir da Guia-Leão-Nei-Leivinha-César e Fedato. Tinha também o Júlio Amaral que, mais tarde jogou na Azenha. Eles sempre ganhavam da gente. Um amigo de meu pai morara aqui por dois anos aqui e ao retornar à Cruz Alta falava maravilhas do Parque Antártica. Conhecera Dudu-Ademir, conhecera Djalma Santos e extasiado falava: esses caras são uma moças de tão educados. Depois, vieram-me Hebe, Silvio Santos e Moacyr Franco mostrando a diversidade da cultura e dos meios de comunicação. Caetano eternizou Sampa, na Ipiranga com a São João e destacou Rita Lee. E na minha cidade natal, o amigo Glemarques me presenteou Hélio Ribeiro da Bandeirantes, o melhor comunicador de rádio que esse país já teve.
Em 1991 comprei um livro que anunciava a criação da Comunidade Europeia e que mencionava as razões pelas quais a Alemanha não iria aderir. Em 1998, viagem que fiz com Ricardo Bittencourt, comprei o Código da Bíblia (do matemático israelense Eliyahu Rips e do jornalista americano Michael drosnin), que discorria sobre supostas mensagens cifradas analisadas por computadores quando se lia a obra em hebraico, língua sem vogais. Ontem, viciado, comprei Por Que as Nações Fracassam de autores das universidades do MIT e Harvard que trata sobre as origens do poder, prosperidade e pobreza e, também, Complacência (Fábio Giambiagi e Alexandre Scwartsman) para entender porque o Brasil cresce menos do que pode, ambos livros da Editora Elsevier. Percebam que nada mudei e nem a São Paulo de minhas primeiras impressões. Então, penso de novo, gosto de São Paulo da garoa, São Paulo de tudo.
*Médico e escritor
“Gosto de São Paulo tão qual gostava de Renato Russo”.