Stéfanie Rozin é fonoaudióloga e especialista em Gestão de Pessoas
O cérebro humano foi criado para observar o ambiente e apreender o que for importante para a sobrevivência do indivíduo. Ele só prestará atenção no que for julgado relevante ou com alto grau de significado. No que diz respeito ao processo de apropriação da leitura e escrita, terá mais chance de ser considerado como algo significativo e, reter a atenção, aquilo que faça sentido no contexto em que a criança vive, que tenha ligações com o que já é conhecido e que atenda às suas expectativas, ou ainda, que seja estimulante e agradável.
No intuito de prevenir futuros problemas de alfabetização, os pais podem tornar o ambiente de convivência da criança repleto de atos de leitura e escrita, de forma a inseri-la no mundo das letras desde cedo. Assim, deixar o ambiente doméstico mais “alfabetizador”, inserindo a criança em atividades rotineiras de leitura e escrita, pode exaltar o quanto elas serão importantes na sua vida.
Deixar recadinhos na porta da geladeira, escrever cartas e estimular a criança a fazer o mesmo (mesmo que saiam apenas rabiscos); preparar receitas culinárias na presença da criança chamando-a para ler ou tentar ler a receita, fazendo com que ela presencie o contato com a língua escrita e suas diversas funções. Ainda, ler histórias para os pequenos diariamente, de modo que percebam que a leitura se faz da esquerda para a direita, ajudando-os a diferenciar o que é letra e o que é desenho, começando a notar que as palavras são escritas separadamente formando frases com sentido. Num ambiente alfabetizador, ser um modelo de leitor é premissa básica, pois uma casa com pessoas que manuseiam diferentes livros, jornais e revistas, encorajam o ato da leitura.
Outra questão interessante é a leitura dos rótulos das embalagens consumidas em casa, assim como da lista de compras do supermercado. Pedir à criança que ajude a preencher a lista com o pai e a mãe, onde se anota no papel as coisas que serão compradas, para consultar lá no mercado, relacionando a linguagem oral com a escrita. É comum crianças em processo de alfabetização tentarem ler placas, letreiros, panfletos de rua. Atitude que deve ser encorajada pelos pais, como na parada de ônibus solicitar a ajuda do filho para ler o destino do ônibus que está vindo. Fazer convites de aniversário com a criança desde seu primeiro aniversário, repetindo nos anos seguintes até que ela própria irá escrever sozinha com sua letrinha. A agenda telefônica é um bom objeto a ser explorado, pois mostra claramente o que é texto e o que é número, com a função de cada um deles: o texto usado para escrever os nomes e o número para informar o telefone.
Investir num ambiente alfabetizador é importante para que as crianças ganhem intimidade com a língua escrita e desta forma, encontrem familiaridade e atribuam maior importância ao ato de ler e escrever. O uso efetivo da comunicação falada e escrita dentro do ambiente familiar, onde a leitura é hábito diário e valorizado, pode evitar futuros problemas de alfabetização e incentivar a criança a entrar no mundo das letras fazendo bom uso delas, tendo prazer em apropriar-se deste conhecimento, que lhe será primordial o resto da vida.