Qual o futuro do aeroporto?

Governo federal elabora projeto para ampliação do Aeroporto Lauro Kortz. Especialistas e ambientalistas apontam obstáculos e outras opções

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Há pelo menos meio século de promessas e tentativas frustradas para resolver a falta de infraestrutura do transporte aéreo em Passo Fundo. Entrava governo, surgia um novo projeto. Saia governo, o projeto era engavetado. O anúncio mais recente (2013) é do governo federal que incluiu o Aeroporto Lauro Kortz no Plano de Aviação Regional onde 270 terminais regionais de todo o país serão reformados e ampliados, totalizando R$ 7,3 bilhões em investimento. A previsão da Secretaria de Aviação Civil é que o projeto da reforma do aeroporto de Passo Fundo seja finalizado até o final de setembro e, não havendo nenhum impedimento ambiental, a licitação para execução das obras poderá ser publicada nos próximos meses, segundo estimativa da SAC. 

Pois são justamente limites ambientais que podem novamente engavetar mais este novo investimento, já que o terminal está localizado em uma zona de proteção de manancial hídrico, 'Berço das Águas' de cinco das 25 bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul. Nesta região nascem águas que abastecem e 61% dos municípios gaúchos.

Segundo o presidente do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (Gesp), Paulo Fernando Cornélio, o Aeroporto Lauro Kortz só está atualmente em funcionamento porque ele foi construído antes da elaboração de estudos que comprovaram que a região do seu entorno é uma Área de Preservação Ambiental.  O terminal foi criado oficialmente, através e do decreto municipal em meados da década de 1950, entrou em funcionamento em 1970, mas foi somente na década de 1980, que ambientalistas da região iniciaram uma série de batalhas judiciais para impedir que a urbanização avançasse na região com a intenção de evitar graves consequências para o equilíbrio e o abastecimento de várias bacias hidrográficas do Estado e também para o abastecimento de água da população. “Neste momento, o Aeroporto já está consolidado e o impacto ambiental já ocorreu, mas novos empreendimentos interfeririam gravemente sobre os mananciais e por isso somos radicalmente contra qualquer empreendimento, inclusive a ampliação do Aeroporto”, afirma.

Preservação
Conforme Cornélio, foram diversas tentativas de instalar empresas no entorno do 'Berço das Águas', como a cancha reta para corridas de cavalos na década de 1980, as pistas de motocross e de jipeiros, o presídio regional e o autódromo internacional nos anos 2000 e, mais recentemente uma pista para arrancadão. “Com os laudos técnicos apontando a extrema importância de preservação da área conseguimos derrubar quase todos os empreendimentos. Perdemos somente uma luta judicial, que foi a construção da Barragem da Fazenda da Brigada”, relata.

Lucinda Gonçalves Pinheiro, ambientalista e integrante do GESP, também defende a preservação da região. Ela desenvolveu sua dissertação de mestrado sobre os fragmentos de Mata Atlântica no território de Passo Fundo e concluiu que o Berço das Águas é uma área prioritária para conservação. “Esta região é um patrimônio natural que não pode ser perdida”, alerta.

Para a ambientalista, a obra de ampliação do aeroporto será uma repetição de erros já cometidos no passado. “O parque da Efrica já foi um grande erro. O aeroporto também. Quando se planeja uma obra pública como esta (aeroporto) é preciso ser gestor para um período de, no mínimo, 30 anos. E do jeito que estão indo as coisas, não chegaremos a 2030 com muita tranquilidade”.

Posição dos ambientalistas
O Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Passo Fundo (CBHPF), que abrange 30 municípios da região, tem convicção de que alterações na região do Aeroporto Lauro Kortz poderão prejudicar Passo Fundo, a região e a maior parte do Estado. “Não só a ampliação do aeroporto, mas qualquer outra instalação ou urbanização naquela região contribuirão com a degradação das nascentes prejudicando o abastecimento de vários municípios”, alerta o presidente do CBHPF, Claudir Luiz Alves.

Na visão do Comitê de Bacia, Passo Fundo e região merecem um aeroporto com melhores condições, mas a ampliação nesta área só trará mais problemas. “Vão ampliar o aeroporto hoje, mas daqui 20 anos ele terá que ser ampliado novamente para atender a demanda. Na nossa visão, o aeroporto deveria ser realocado para outra área”, disse Alves. O presidente do Gesp também é enfático quando a posição da entidade. “Não somos favoráveis a ampliação da pista do aeroporto e toda a qualquer atividade a ser desenvolvida na região. Os órgãos públicos precisam compreender que esta área precisa a ser preservada hoje. Não se pode empurrar o problema para daqui dez, vinte anos. Sabemos que é preciso melhorar o serviço no aeroporto, mas naquele local sempre haverá problemas”, alerta Cornélio.

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