OPINIÃO

Uma escola encantada e encantadora

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Bartolomeu Campos de Queirós é um escritor da ternura e das metáforas. Estou lendo a conta-gotas o livro com seu nome, feito de inéditos selecionados por Ninfa Parreiras. Nos primeiros textos, derrama encantamento pela infância e, na infância, a escola, a professora.

A gente lê Bartolomeu e monta seu cavalo de palavras. Sentimos o perfume das flores de mato, levadas pelos alunos, sobre a mesa da professora. E acompanhamos o ditado, as “composições” corrigidas, a sua saudade da escola nos finais de semana.

Quando me vejo, cá estou lembrando também da minha escola, das histórias, dos poucos livros, da paixão pela professora, das tarefas feitas à luz do lampião de querosene. Nem eu, nem Bartolomeu, conseguiríamos entender o debate sobre o parecer do Conselho Estadual de Educação que pretende proibir a expulsão dos alunos da escola. Acho que toda a nossa geração, já longe dos bancos escolares, também não conseguirá entender.

Também não conseguimos entender a violência contra os professores, a violência contra os alunos, os muros que rodeiam as escolas, policiais rondando os pátios escolares.

O que aconteceu com a escola que perdeu o encantamento?

Uma pergunta difícil de responder.  

O que eu posso dizer é que não agredimos o que amamos. E os alunos, em geral, não amam a escola. A pergunta poderia ser refeita. Por qual razão se detesta tanto a escola a ponto de se precisar ser dela ser expulso?

Sempre tive a escola como espaço de criatividade, de arte, de liberdade, de sonho. Parece que as escolas de hoje se tornaram apenas espaço para se cumprir obrigações. O professor, com a obrigação de dar conta da carga horária, de estar lá para  cumprir o programa. O aluno com a obrigação de demonstrar o que aprendeu de modo quantitativo. Nas escolas públicas, o foco passou a ser o desenvolvimento de conteúdos. Nas escolas privadas, a preparação para o vestibular.

Com a democratização do acesso à internet, a escola, que antes monopolizava o depósito do conhecimento, não sabe o que fazer agora, quando só alunos encontram as informações do Google. Sem identidade, todos estão à deriva. Qual a finalidade de se decorar os afluentes do Amazonas, se eu com o celular tenho acesso a qualquer hora essa informação?

Falta sensibilidade nas escolas porque falta arte. E quando a arte está presente, é mais como conteúdo, não como fruição. Com pouca arte, há pouco humanismo, há pouco afeto, há pouca ternura. Resultado de uma visão da educação “para vencer”, para ter sucesso. A sociedade cobra a família, a família cobra a escola. A escola, então, vê-se obrigada a corresponder às expectativas dos pais.

Professores e alunos, em geral, parecem estar em campos opostos. Já não são parceiros, já não são companheiros de propostas. E de outro lado, temos uma sociedade que não valoriza o conhecimento estético, mas apenas o conhecimento funcional, com utilidade.

Se a função da escola é educar para a vida em sociedade, quando se expulsa um aluno, a escola confessa sua incompetência para o fim para a qual existe.  A escola precisa ser amada para ser respeitada. Para ser amada precisa ser mais encantada e encantadora.

 

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