OPINIÃO

O Livro Verde da Embrapa Trigo

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E se houve, segundo reza a lenda, um Livro Preto na história da Embrapa (o relatório “Sugestões para a Formulação de um Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária”, que embasou a criação da Empresa em 1973); a Embrapa Trigo, seguindo nessa trilha, pelas práticas de arquivamento de documentos e materiais de escritório disponíveis na época e não por mera imitação da sede, também teve o seu Livro Verde.
O Livro Verde da Embrapa Trigo, nos moldes do Livro Preto da Embrapa, recebeu uma capa de cartolina verde e a identificação com tinta preta nanquim, que credito ao bom gosto e ao esmero no trato da produção de capas das publicações/documentos da Unidade da artista plástica Liciane Toazza Duda Bonatto. Esse Livro Verde é, especificamente, o documento final “Projeto de Implantação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo”, aprovado pela diretoria a Embrapa, que, acompanhado de memorando interno (Memo. DTC-072/75, Brasília, 19.03.1975), foi encaminhado ao primeiro Chefe-Geral da Unidade, o pesquisador Ottoni de Sousa Rosa, com vistas a implementação operacional desse centro de pesquisa, que havia sido inaugurado em 28 de outubro de 1974. Textualmente, eis o memorando que leva a assinatura de Delmar Marchetti; assessor do DTC, e acompanha o documento original de 37 páginas: “Temos o prazer de encaminhar a V. Sa., uma cópia do documento final Projeto de Implantação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, aprovado pela Diretoria da EMBRAPA”.
O “Projeto de Implantação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT)” é derivado do relatório do grupo de trabalho estabelecido pela resolução nº. RD 006/74, assinada pelo diretor da Embrapa, Dr. Almiro Blumenschein, que designou Augusto Carlos Baier, Rui Colvara Rosinha, Erycson Pires Coqueiro, Avahy Carlos da Silva, Mário Bastos Lagos, Amarilis Labes Barcellos, Ottoni de Souza Rosa e Walter Frederico Kugler, para, sob coordenação do primeiro, prepararem o anteprojeto de implantação do CNPT; com prazo até 30 de setembro de 1974 para a apresentação da proposta. O relatório “Anteprojeto de Implantação do Centro Nacional de Trigo” efetivamente foi apresentado em setembro de 1974, sugerindo Passo Fundo para sediar a nova unidade de pesquisa da Embrapa, e deu sustentação ao documento que estamos batizando de Livro Verde da Embrapa Trigo; propriamente o “Projeto de Implantação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo”.
Estes dois documentos, Anteprojeto e Projeto, são provas da competência e do pensamento estratégico dos membros do grupo de trabalho em pensarem e planejarem uma nova forma de atuação da pesquisa em trigo no Brasil. A tal ponto que, ainda hoje, guardadas as proporções dos problemas levantados na época e dos novos desafios que surgiram, pode-se dizer que permanecem atualizados e relevantes. E mais: permitem que seja mensurado o avanço alcançado nesses 40 anos, dimensionando o papel da ciência, da tecnologia e da inovação (CT&I) no desempenho da atual triticultura brasileira, demonstrando o muito que foi feito e o que ainda precisa ser feito.
O Livro Verde da Embrapa Trigo, em apertada síntese, contempla os seguintes itens: análise dos problemas que limitam a cultura do trigo no Brasil; filosofia dos programas de pesquisa; atividades satélites de pesquisa (em outras regiões do País), necessidade de pessoal (técnico, administrativo e suporte técnico) e cronograma de implantação e proposta orçamentária.
A orientação estratégica de promover pesquisas que visavam à solução de problemas reais da agricultura brasileira e o estímulo ao trabalho em equipe, combinando a concentração de especialidades ceintíficas, atuação em todo o território nacional e formatação de parcerias com entidades estaduais, setor privado e universidades renderam bons frutos. Os membros do grupo de trabalhos atuaram como profetas, ainda que em vez de previsão tenham optado por uma proposta de construção de um novo futuro para a triticultura brasileira. Hoje, na posição privilegiada de narrador dessa história, fica fácil ver que acertaram na maioria das coisas e que em poucas (poucas, mesmo!) se equivocaram.

 

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