OPINIÃO

A culpa da cultura

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A ignorância pode ser uma coisa boa. Não falo da ignorância como estupidez. Trato da igno­rância como desconhecimento. Ando pensando que o surto de infelicidade do mundo contem­porâneo se deve à informação. Mesmo que não se queira, fica­mos sabendo de tudo, ou quase tudo. Acontece que “quase tudo” é tudo, praticamente.

A imaginação pode ser uma coisa ruim. Por culpa da imagina­ção o quase tudo é tudo. Porque quando sabemos pouca coisa sobre algumas coisas, logo tra­tamos de imaginar outras coisas ainda não explícitas. Como é de conhecimento público, imaginar não tem limites. E, neste rumo, as coisas degringolam.

Veja-se o caso dos programas dos candidatos a presidência da república. Nenhum deles tem nada claro, ou tudo é muito lí­quido. O programa vai mudando conforme as pesquisas, conforme o que os outros dizem. Se quem é a favor do petróleo está melhor nas pesquisas, nós somos a favor do petróleo. Se quem é a favor da energia eólica subiu no ranking, vamos ser a favor da energia eó­lica.

Por culpa da imaginação, es­tou ficando preocupado com o futuro. Começo a imaginar coi­sas. Isso porque, parece, os can­didatos ainda estão imaginando o que irão fazer se eleitos. Na prática, nenhum tem claro um projeto. Tudo vai depender das circunstâncias. E as circunstân­cias nunca foram muito amigas de ninguém.

Talvez o que acontece comigo poderá acontecer com você. Es­ses sintomas são graves, e ando observando o mesmo sinal clíni­co em muita gente. Fico sabendo que a leitura aumenta pouco a pouco, que o acesso à universi­dade também. Por consequência, estamos passando a ser menos ignorantes, e nossa capacidade de imaginação está perdendo as rédeas.

Falar da ignorância como coi­sa boa e de imaginação como coi­sa ruim beira à ética. Pode não ser muito científico. Mau e bom são conceitos subjetivos e posso estar errado. Em algum tempo eu havia aprendido que o conhecimento era fundamental, não a ignorân­cia. Na mesma época, minha pro­fessora fazia discursos a favor da imaginação. Só que agora, nestes tempos, essas duas coisas estão me trazendo sérios problemas e isso anda acontecendo com co­nhecidos meus. Alguma coisa anda errada. Tenho a impressão que não somos nós, mas não acho que tenho a verdade, ainda.

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