Tenho uma certa preocupação com o esquecimento das novas gerações para com algumas coisas que fazem parte da cultura popular – mundial – há séculos. A cada nova adaptação que o cinema faz, sobre um personagem histórico ou uma lenda, a cada nova “revisão” em cima de velhos mitos, me preocupa ver que certas histórias que durante milênios tiveram lugar no imaginário popular estão começando a se perder. Assistia às “Tartarugas Ninja” no fim da minha infância e achava o máximo a citação do próprio desenho a artistas do renascimento. Michelângelo, Donatelo, Rafael e Leonardo. Vi um desenho dia desses – não sei se foi a segunda ou terceira versão – e durante todo o desenho não vi o nome deles ser chamado por completo. Micky, Don, Rafa, Leo. É mais fácil de guardar, menos complicado. E aos poucos se vai a referência. Ela está lá, mas sequer o nome é dito por completo. Ela se perde. Não vi o filme, mas até onde sei, parece que os nomes foram preservados.
Li o livro contando as aventuras de Robin Hood quando moleque, vi pelo menos 5 versões da história no cinema, e pouco tempo atrás vejo Ridley Scott contar uma história “realista” do mito, como se a história que todos conhecem já fosse conhecida o suficiente para render outra versão. Mas sei de jovens que não conhecem a história de como Robin e João Pequeno lutaram no seu primeiro encontro e como nasceu a lenda daquele que “rouba dos ricos para dar aos pobres”. O cinema não se interessa mais por essa história. Vamos modernizar, tornar realista... A saga de Perseu no cinema, igualmente, precisou ser reescrita, transformada, adaptada, moldada para o público. Os velhos mitos não são mais suficientes – é melhor que 2, 3 ou 4 roteiristas se unam para reescrever “melhor” essa história. E o “Fúria de Titãs” de 1980 ainda é mais honesto e delicioso de se ver do que a versão bombada anos 2000.
“Hércules” pode ser um bom filme, já há gente por aí elogiando, se surpreendendo. Pode ser divertido, pode valer as duas horas de entretenimento. Mas leio que o filme, “Hércules”, não foca na história de Hércules que todos (todos?) cresceram ouvindo. Queria muito ver um filme inteiro, com as potencialidades de hoje, dedicado aos seus 12 trabalhos. O leão de Neméia, o Javali de Erimanto, a Hidra de Lerna, o combate com as Amazonas, o confronto com Cérbero. Leio que isso tudo aparece, resumidamente, porque o foco do filme é outro. Hércules desistiu de ser herói, precisa reaprender, o mundo precisa dele. Está em crise consigo mesmo. Parece ser um adversário bem maior do que os citados. Até os heróis mitológicos ficam deprimidos – o mal do século destrói até os mitos. Nessas horas, bate uma saudade dos heróis mitológicos e dos monstros de Ray Harryhausen, movimentando-se desajeitadamente nostálgicos na tela. Ray quem??? Deixa pra lá....