Em uma tarde qualquer de setembro de 1980 eu, desatinado, sentei-me num banco da Praça Tamandaré, a praça de minhas histórias e estórias, a observar as crianças que brincavam no play-ground. Havia presenciado pela primeira vez a morte de uma criança ali no hospital e eu estava sob uma prova de fogo: a Medicina seria a minha praia? Pensei seguir como engenheiro florestal que um dia havia sonhado, pensei que amava a vida e a morte de uma criança me parecia insuportável. Três horas após, resoluto voltei ao hospital. Pensara: se um dia alguém morrer na minha frente sem que eu tivesse a mínima ideia de como salvá-lo eu morreria junto. Então, desistir tornara-se fora de questão.
Há momentos em que se pode fazer escolhas, como as que os alunos do IE das áreas de Laboratório Químico e Arquitetura que decidiram retomar a solenidade de formatura interrompida em 1976 em solidariedade ao colega Rogério Azambuja que convalescia de um acidente de trânsito. Então, trinta e oito anos depois se reuniram, juntamente com seus paraninfos Nino Machado e Rudah Jorge e se enterneceram e se inebriaram com as boas lembranças. Como é bom poder retomar e essa turma que organizou o encontro proporcionou emoções, não somente aos participantes, mas a toda a comunidade. Obrigado pela lição, pessoal.
Há momentos em que não sei se somos capazes de fazer escolhas. Olhei a foto do jovem assaltante morto em confronto com a polícia após ter participado de um assalto na Vila Rosso com o resultante assassinato de um policial de 36 anos , a sangue frio. Sim era a foto de alguém que delinquía, estava à margem da lei e poderia encontrar fim trágico a qualquer momento. Mas, era a foto de um menino de 19 anos. Eu, aos 19, escolhi estar na faculdade, com o crédito educativo, é verdade, mas estava ali. Diz, a ciência que a gente é escravo de uma genética que predispõe a seguir uma estrada ou outra. Talvez, o jovem delinquente não tenha tido amparo sócio-familiar para sentar-se em uma praça e deliberar sobre as escolhas. Que pena para todos. Eram dois jovens, um com 19 e outro com 36 anos.
A mão que toca um violão/se for preciso faz a guerra/mata o mundo/ fere a terra/ a voz que canta uma canção/se for preciso canta um hino/louva a morte. Marcos fez a música e Paulo Sérgio Valle, seu irmão, fez a letra que inundou nossas vidas em 1967-68. Cantava que podemos tudo de bem ou de mal conforme as circunstâncias que se apresentam, a mesma mão, a mesma voz. De modo que costumo estimular a pergunta que acho que deveríamos fazer a nós e aos que nos seguem em qualquer situação de nossas curtas existências: isso que acabaste de fazer é o teu melhor? Não consegues fazer melhor do que isso? Acho que esse tipo de provocação poderia ser um esteio para um mundo melhor, acho que a gente bem que poderia ser melhor do que se é, independente do tamanho que a gente acha que tem.