Meu filho me deu um grande presente esta semana. Ele disse que gostaria muito de ter conhecido o Jorge Anunciação com seus 18-20 anos. Então, apresentei-me, pois não percebo muitas diferenças entre o que eu fui e o que sou. Não sei se isso é estagnação ou preservação de princípios. Mas era eu sonhador, aglutinador, especialista em promover finais felizes. Além disso era movido por uma grande força transformadora, uma espécie de dínamo e procurava buscar na filosofia, barata ou não, grandes explicações para os atos do cotidiano. Entendia que a vida de todos poderia ser bem melhor do que é e que isso tudo vinha de escolhas.
Hoje, li ali no Zaffari, que a vida é feita de escolhas, então lembrei de meu filho e dos meus 18. E as escolhas se tornam mais obrigatórias à medida em que vamos envelhecendo. Parece que temos que ter a sabedoria de ser como aquele zagueiro veterano, aquele que joga pelos atalhos, pelos caminhos mais curtos.
Assim posto torna-se evidente que não dispomos de todo o tempo do mundo para fazer tudo o que se apresenta. Resta, então, escolher. Escolher as melhores companhias, as melhores músicas, os melhores filmes.
A vida me permitiu pensar precocemente nisso tudo há 29 anos quando eu era residente de cirurgia geral. Nessa época, tão atarefado quanto sou hoje, deliberei que os sábados à tarde seriam dedicados a caminhar sem destino e a pensar na vida, fazer uma introspeção, mesmo que resultasse em brigas internas. Foi bom enquanto durou e foi muito útil. Agora percebo que estou necessitando retomar essa ideia.
Estava caminhando pelo Boqueirão, uma pequena extensão de terra da imensa propriedade de Osvandré Lech e senti saudades das tardes que utilizava para correr no asfalto como fazia há 10 anos. Depois disso me enchi de compromissos na universidade e hospitais e abandonei o exercício nestes horários. Já sinto saudade de ir em boates, de jantar com os velhos amigos, de jogar conversa fora, de ir aos jogos do Grêmio – vá que meu time ganhe naquele dia.
Porque a gente vai se enclausurando, encistando-se, viramos escravos dos compromissos. Vamos acordar antes que a gente não consiga mais acordar e vamos fazer as escolhas saudáveis de modo voluntário antes que a vida imponha nossos destinos.
Afinal, a verdadeira felicidade é algo fácil de ser atingida. Se foi difícil atingi-la deve ser porque é de segunda categoria.