OPINIÃO

E assim nasceu o sistema integrado de controle de doenças em trigo no RS ?EUR" Parte 1

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Em meados dos anos 1970, quando recém a Embrapa Trigo havia sido criada (inauguração oficial em 28 de outubro de 1974), mesmo que o Rio Grande do Sul acumulasse frustrações sobre frustrações de safras de trigo, causadas pelos complexos de doenças e pragas que atacavam a cultura, ninguém imaginava ou se atrevia a dizer que o problema principal, em vez da parte aérea, estava abaixo do solo, onde grassavam, despercebidamente, as podridões radiculares. Ignoravam-se, na época, as doenças radiculares em trigo, por motivos óbvios. Os campos do Planalto Rio-Grandense começavam a ser desbravados com lavouras e acreditava-se piamente que a sucessão trigo-soja (gramínea-leguminosa) era um modelo sustentável de agricultura; pelos menos economicamente.

Esse cenário, de fato, começou a mudar em 1977. Apesar de existir indicação de fungicidas, para tratamento de sementes e da parte aérea em trigo, a campanha capitaneada pela Embrapa e pela Fecotrigo, com o apoio da Emater/RS, para atingir a meta de 1500 kg/ha nas lavouras gaúchas desse cereal, centrada no controle de doenças, apresentava resultados desastrosos. E foi graças a mais uma frustração anunciada na safra de trigo do RS, em 1977, que a solução de um problema complexo começou a ser delineada, pois as epidemias de doenças estavam inviabilizando a produção de trigo no Estado. Enfim, havia que se buscar outro caminho, pois apenas o uso de cultivares resistentes e a adoção do controle químico de doenças não resolviam o problema.

Foi então que a Chefia do CNPT, sob a liderança do pesquisador Ottoni de Sousa Rosa, colocou todo o esforço da instituição na busca da solução do problema. A equipe estava montada, a estrutura de pesquisa em pleno funcionamento e, para ajudar, havia convênios com FAO, CIMMYT, IICA e Governo do Canadá para prover apoio por meio de consultorias especializadas. Estrategicamente, Ottoni Rosa começou pela busca de explicação para o que estava acontecendo em algumas lavouras na região e nos ensaios realizados no campo experimental da Unidade, em que pese as similaridades no uso de tecnologia de produção, os contrastes de rendimento eram grandes. Os resultados obtidos pelo pesquisador Ariano Prestes, que encontrou diferenças marcantes na sanidade do sistema radicular de plantas de trigo coletadas em experimento realizado na lavoura do Sr. Valdemar Crespi, em Coxilha/RS, comparada com plantas da área experimental do CNPT, começaram a lançar luzes sobre a intricada questão. Também surpreenderam os desempenhos das lavouras de Valace Neuhaus e dos irmãos Bassegio (Vanderlei e Altair Bassegio), que, apesar do uso de tecnologias praticamente idênticas e estarem localizadas na mesma região, no munícipio de Coxilha, enquanto o primeiro colheu 700 kg/ha, os segundos colheram 2700 kg/ha de trigo; em 1977. Afinal, havia algo que justificasse essa diferença?

Para entender (ou tentar entender) de vez o que estava acontecendo, foram reunidos, logos após a colheita da safra 1977, na sala da Chefia do CNPT, os agricultores Vanderlei Bassegio, Valace Neuhaus e Valdemar Crespi. Os detalhes dos sistemas de produção que empregaram deram a pista que faltava. A diferença estava, essencialmente, no histórico de utilização dos solos no inverno. Enquanto Vanderlei Bassegio e Valdemar Crespi obedeciam pousio de três invernos antes de retornar com o cultivo de trigo na mesma área, Valace Neuhaus cultivava trigo sobre trigo. E, considerando-se que, não havia sido diagnosticado mal-do-pé nessas lavouras, reforçava-se o indício que a diferença estaria mesmo associada com a utilização do solo no inverno. Além de tudo...

(continua...)

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