Identificado que o problema de doenças que assolava a cultura do trigo no Rio Grande do Sul, nos anos 1970, estava relacionado com o uso do solo no inverno, Ottoni de Sousa Rosa, então Chefe-Geral da Embrapa Trigo (CNPT), intensificou os trabalhos da Unidade para a elucidação da intrincada questão. Vanderlei Bassegio, Walace Neuhaus e Valdemar Crespi, informando os sistemas de produção de trigo que praticavam e o desempenho em rendimento das suas lavouras, especialmente na malfadada safra de 1977, haviam dado a pista que faltava. Era chegada a hora de a pesquisa científica fazer a sua parte.
Outro grande problema de sanidade em trigo, na época, era o mal-do-pé, causado pelo fundo Gaeumannomyces graminis var. tritici. Nesse mesmo ano de 1977, no município de Coxilha/RS, Luiz Graeff Teixeira tinha uma lavoura de 200 ha que fora totalmente perdida por mal-do-pé. Algo parecido também aconteceu nos experimentos do CNPT sobre doses de calcário e correção de acidez do solo. Então, coube ao pesquisador Sirio Wielthölter estudar detalhadamente o assunto, vindo a concluir que a incidência do mal-do-pé em trigo era intensificada dois ou três anos após a aplicação de calcário e que uma vez ocorrida essa doença, no segundo cultivo de trigo após o pousio, o problema voltava, evidenciando que trigo não poderia ser cultivado por mais de um ano num mesmo local.
Ottoni Rosa solicitou uma reunião extraordinária da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo (CSBPT) para tratar, entre outros temas, da inclusão da rotação de culturas no sistema de produção de trigo. A reunião foi realizada em Porto Alegre/RS, na Faculdade de Agronomia da UFRGS, no dia 1º de fevereiro de 1978. A proposta do CNPT, mesmo que baseada apenas em observações, foi aprovada por unanimidade. E assim, para a safra 1978, nos domínios da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo (RS e SC), passou-se a recomendar o cultivo de trigo em áreas que não tinham sido utilizados com esse cereal ou com cevada, pelo menos, nos dois anos anteriores.
O CNPT, a partir da safra de 1978, deu prioridade ao estudo de doenças radiculares em trigo. O pesquisador José A. Diehl foi incumbido de esclarecer as diferenças de rendimento entre lavouras de trigo com e sem pousio no inverno. Para assessorar José A. Diehl na identificação de lavouras com históricos diferentes de utilização do solo no inverno, Ottoni Rosa encarregou Armando Ferreira Filho, que havia sido recém-contratado para a área de Difusão de Tecnologia e era detentor de uma poderosa rede de relacionamentos com os produtores rurais da região. Ao par, o CNPT contava, nessa área, com os consultores R. D. Tinline, do Candá, P.J. Shipton, da Escócia, e A.D. Rovira, da Austrália.
Foram identificados, como agentes causadores das doenças radiculares, Helminthosporium sativum (90% dos isolamentos –podridão comum das raízes) seguido por Fusarium roseum e por Colletotrichum graminicola. Os resultados do trabalho de José A. Diehl levaram a CSBPT a alterar a recomendação de rotação ou de pousio para três anos (a partir de 1979), tolerando dois anos sem trigo em casos de lavouras anteriormente não muito atacadas por doenças radiculares. O sistema seria complementado pelos trabalhos de Erlei Melo Reis, rotação de culturas e a interação de efeitos dos restos culturais sobre doenças da parte aérea, e de Edson Clodoveu Picinini e José Maurício Cunha Fernandes, no tocando ao controle químico (produtos, doses e tecnologia de aplicação).
Enfim, estava definitivamente consolidado o sistema integrado de controle de doenças em trigo no RS, que seria embasado em resistência genética (cultivares resistentes), rotação de culturas e uso de fungicidas (controle químico); revolucionando a triticultura brasileira.
OPINIÃO
E assim nasceu o sistema integrado de controle de doenças em trigo no RS ?EUR" Final
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