Há coisas na vida que, por existir um modelo que foi socialmente convencionado como padrão, são mais difíceis do que aparentam. Entre essas eu incluo prefaciar um livro. Afinal, que se espera que um prefaciador, que seja honesto com ele mesmo e com os leitores, escreva? Elogios à mancheia para os autores e à obra para atrair leitores? Ou tecer uma crítica que, dependendo da intensidade e da adjetivação empregada, pode afastar leitores? Eu, pessoalmente, entre essas alternativas, não sou partidário nem de uma e nem de outra. Acredito, inclusive, que, quando os ventos sopram favoráveis, mais que uma parte meramente protocolar, o prefácio de um livro pode se tornar peça indissociável da obra, servindo para melhorar a compreensão dos leitores ou até mesmo para justificar a sua publicação.
Ainda que essa não seja uma regra expressa nos manuais de formação de leitores, eu tenho o hábito de ler prefácios e apresentações de livros; antes de gastar várias horas na leitura da parte principal. Inclusive, para obras que possuem mais de uma edição e prefaciadores diferentes, quando são do meu interesse, costumo prestar atenção especial nas semelhanças e nas diferenças que acompanham os comentários inclusos nessas apresentações. Sei que aquelas palavras que foram deliberadamente postas em posição privilegiada, antes do conteúdo do livro propriamente dito, não são meras peças de ornamentação, cuja leitura poderia ser dispensada sem qualquer remorso. Há razões para estarem exatamente ali. Por isso, é que tenho bem claras a convicção da responsabilidade e de toda a sorte de dificuldade que enfrenta quem se aventura na empreitada de prefaciar um livro.
Assim, creio desnecessário dizer que, na posição de presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, para prefaciar o livro Contos da Academia, que traz uma coletânea de contos escritos por acadêmicos da instituição, a par do privilégio do convite recebido dos editores Ivaldino Tasca e Marina de Campos, a dificuldade maior foi não ceder à tentação do elogio fácil ou resvalar na retórica de ocasião, tentando persuadir os leitores de que estão diante de uma obra-prima da literatura universal.
Ainda que tentado, não me atreverei a qualquer comparação da obra dos contistas da Academia Passo-Fundense de Letras (APL) – Agostinho Both, Carlos Antonio Madalosso, Elisabeth Souza Ferreira, Fernando Miranda, Ivaldino Tasca, Júlio Perez, Marisa Potiens Zilio, Osvandré Lech, Pedro Ari Veríssimo da Fonseca e Sueli Gehlen Frosi – com a produção consagrada no gênero por contistas modelares, a exemplo do gaúcho Sergio Faraco, do escritor Rubem Fonseca ou do mestre dos mestres do conto universal, o russo Anton Tchekhov. Mas, de uma coisa eu não posso me furtar de dizer, que todos os contistas da APL honram o posto de acadêmico/escritor e dignificam sobremaneira a cadeira que ora ocupam no sodalício das letras locais.
No livro Contos da Academia, há desde contos breves, escritos de forma direta, sem outra intenção que não o prazer (de quem escreveu e do leitor), até aqueles mais sofisticados em estilo, que, pelas mais variadas razões, instigam a imaginação do leitor. Não pretendo, de forma alguma, tirar o prazer da descoberta do leitor, tecendo comentários que, no fundo, não expressam mais que a minha mera opinião ou o meu gosto pessoal. Deliberadamente, deixo que você, prezado leitor, tire as suas próprias conclusões.
Por fim, cabe ressaltar que essa iniciativa de parceria com a Aldeia Sul Editora, cujo produto é o livro Contos da Academia, é, aos nossos olhos, muito bem-vinda, pois reforça o papel da Academia Passo-Fundense de Letras na consolidação de Passo Fundo como Capital Nacional da Literatura. Afinal, o mínimo que se espera de uma Academia de Letras e de uma cidade que ostenta tamanha honraria, é que aqui se produza boa literatura e se publique bons livros. E esse é o caso. Eis o livro!
P.S.: O livro Contos da Academia tem sessão de autógrafos agendada para o dia 6 de novembro, às 18h, na 28ª Feira do Livro de Passo Fundo.