A última eleição mostrou paridade entre governistas e antigovernistas em nível federal. As redes sociais com todos os exageros possíveis dicotomizou as separações regionais, ofensas aos nordestinos, volta dos militares, impeachment da dona Dilma, recontagem de votos, ou seja, nada que se deva levar muito a sério. Com a abertura da caixa-preta dos números oficiais do governo Dilma convenientemente mostrados em período pós- eleição, com as revelações cada vez mais constrangedoras da operação lava-jato, com o escandaloso envolvimento das grandes empreiteiras e com o descalabro com a nossa maior empresa, a Petrobrás, almejávamos um pente fino. Mas, vejam, noticia-se que houve um acordo envolvendo autoridades dos partidos Tucano e PT para que os maganos envolvidos em denúncias de locupletagem e as empreiteiras não sejam chamados para prestar esclarecimentos. Se esse suposto arranjo for confirmado só nos resta solicitar beijos na boca porque adoro ser beijado quando estão me usando, para não usar outro verbo de natureza sexual. Agora, percebi, mais uma vez, quem são eles e quem somos nós. Sim, a verdadeira dicotomização existente no país é nós e eles. Mas, poderíamos, quem sabe, classificar os cidadãos brasileiros em grupos: o que está mamando e quer continuar + grupo que mamou e quer voltar a mamar + grupo que ainda não mamou mas deseja-o. Esses grupos são os que se beneficiam dos nossos votos para realizar aquilo que aviltamos. Há outro pequeno grupo ideológico, constituído de jovens, maioria sonhadores e desconhecedores da história do país, que entram em embates movidos pela paixão. E há o nós, o nosso grupo, o que paga as contas, o que presta dever ao fisco e que gostaria ainda na nossa geração encontrar o Brasil do futuro. Nós, que sonhamos com o Brasil do futuro, sempre olhamos para o horizonte imaginando a Pindorama acordando do sonho esplêndido em berço esplêndido, gostaríamos de ver os larápios no xilindró mas, eles permanecem atuantes através dos nossos votos. A mise-en-scène (encenação, em francês) está estampada em todos os jornais até que a liberdade de imprensa possa registrar.
Mise-en-scène me veio assim para homenagear Juremir Machado da Silva pela sua intelectualidade, pelo seu histórico contestador. Juremir morou em Paris, o que me causa inveja profunda, assim como Luís Fernando Veríssimo, como Justino Martins (jornalista ligado à Revista Manchete e Adolfo Bloch), cruz-altense e que foi uma espécie de adido cultural em Paris entre os anos 40-70. Também morou lá outro cara que escrevia umas putas crônicas de fazer a gente pensar melhor. Refiro-me a Janer Cristaldo - intelectual, filósofo, jornalista e escritor santanense falecido em São Paulo na semana passada. Juremir me lembra Janer que escrevia na Folha da Tarde e que eu comecei a ler em 1983. Tenha vida longa, Juremir, para suprir a falta de Janer, cara que misturava o deboche de Sérgio Jockyman com a aspereza inteligente de Élio Gaspari