Às vezes, não muitas, sonho em escrever,
Talvez poemar, talvez poesiar, talvez contar
Mas, não consigo mais do que um simples tergiversar
Vou até um pedaço e , por autocomiseração, declino
Como seria possível concatenar ideias de vida ou destino
Ao encontrar tardiamente as impactantes poesias
Cheias de paz, luz e alegrias
Daquele que partiu sem que ou o conhecesse
Sem que eu ao menos lesse
Desperdício meu, caro Manoel de Barros
Lerei-o entre matas ou entre flores em jarros
Ou a ouvir seus passarinhos silvestres
Aqueles orquestrados que nossas vidas enternece
Manoel de Barros é, pelo menos para mim, um autor póstumo, tal qual Niesztche. Este é um escritor-filósofo-pensador que angaria todos os fosfatos para meu cérebro. É lê-lo e caminhar longamente, sorvê-lo pausadamente. Manoel de Barros, ao contrário, é de ideias espantosamente simples que percebe a deslumbrante natureza e a descreve como se dela fizesse parte, como se dela jamais se desprendesse. O velho poeta, ao morrer há uma semana despertou em mim e em milhares de corações e mentes generosas sentimentos de gratidão como o de Diógenes Christofoletti – morreu nada, hoje mesmo tava brincando no quintal de minha mente. Também, de Aída Lisboa – ele não se foi porque eu acabei de encontrá-lo.
Vejam vocês, Lula quase preso, Dilma quase indiciada, Graça Foster quase despedida, nesse país do quase. Brasil do futuro, segundo Stefan Zweig, está depressivo pela auto-avaliação e pelo descrédito internacional a nossa maior empresa. Nosso país, o país do quase, não ri e nem chora pelo que se sucede, apenas contempla, deitado eternamente. Se não chora pela banalização da corruptela, pelo escárnio dos vendilhões de esperanças, pelo menos chora a morte de um menino de mais de noventa anos, poeta Manoel de Barros, a quem, candidamente presto essa homenagem porque absurdamente mentem que morreu. Claro que não, também acabei de encontrá-lo, tava brincando no quintal da minha mente, ali na mata, entre os passarinhos e rãs.
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