OPINIÃO

Brinquedos

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Senti uma dor de pai, uma dor de homem, uma dor de paz, ao ver o vídeo do menino Tamir, 12 anos, morto por policiais em Cleveland, EUA. Supostamente estaria armado, mas ele usava apenas uma arma de brinquedo.

Não me dói por ele ser negro, por ele ser criança. Sua morte me dói principalmente por existir armas, verdadeiras e brinquedos.
Um pai me disse que seu filho pediu uma metralhadora de brinquedo para o Natal. O pai estava tentando pesquisar qual arma mais barata e mais imponente.

Há aqueles que se acham exagero a preocupação de alguns esquizofrênicos, eu por exemplo, que acham que brincar com arma relativiza a morte.

Sim, estes pais tem razão. Realmente brincar de matar nada tem a ver com matar de verdade. É apenas uma brincadeira inocente de criança, não quer dizer que eles serão assassinos quando adultos.

Usando desses argumentos passei a sugerir ao pai outros brinquedos, caso não ache a metralhadora.

Uma motosserra. Para que seu filho brinque de derrubar árvores. Ele pode começar no jardim da casa. Brincar de desmatamento. Não faz mal nenhum. Será apenas brincadeira inocente de criança.

Um boneco de político corrupto. Para brincar de receber propina em negócios públicos.

Uma arma de caça. Seu filho poderá brincar de caçador de animais em extinção. Compre também um boneco de lobo guará para que ele finja matar. Ou uma gaiola para prender papagaio charão ou ararinha azul.

Um cachimbo de fumar crack e algumas pedras de brinquedo. Para brincar de drogado. Afinal, isso existe na realidade. Apenas brincadeira inocente.

Depois das minhas sugestões o pai me encarou furioso. Me tirando para idiota? Compra essas porcarias para seu filho e não fique sugerindo para os outros. Doido!

Brincar de desmatamento, de corrupto, de matar animais em extinção, de drogado pode ser perigoso para a criança. Brincar de matar pessoas não é?

Tenho uma dor de pai pelo Tamir, menino morto num parque onde brincava de assassino. Mas me dói mais viver num mundo onde pais e mães, - depois de rezar para um mundo pacífico na missa ou culto de Natal –, depositam ao pé da árvore, ou no presépio, armas para brincadeiras de inocentes.

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